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Todas as Mulheres do Mundo (com Ruy Castro)

Todas as Mulheres do Mundo (com Ruy Castro)

[Música] bom dia boa tarde boa noite sejam bem-vindos a cinema brasileiro o podcast vai te levar para dentro dos filmes personagens e histórias por trás do cinema nacional eu sou Lino Meires e hoje tem [Música] filme Olha tô levando a maior chance de ficar apaixonado por você Você tem alguma coisa contra isso por exemplo nós dois na sua tem alguma chance de dar certo Maso é difícil de dizer ouvintes temos uma presença muito especial o autor escreveu alguns dos livros formativos da minha juventude Rui Castro Oi Rui tudo bem aí no Rio de Janeiro tudo bem tudo bem aqui ótimo Pensei em ligar para você pra gente fazer esse episódio por causa de uma coluna que você escreveu sobre o Deus e diabo acho que foi em junho coisa de cinema você lembra Lembro sim lembro não eu eu gosto muito do cinema eu eu eu vi todos os filmes que as pessoas assistem pelo pelo no DVD ou pela televisão eu assisti ao vivo no cinema na tela né anos 50 60 70 então eu conheço esses filmes do desde a origem quando eles ainda não eram considerados clássicos né quando Estavam estavam assim cartaz como filmes comerciais normais e isso faz muita diferença porque você tem que reagir a um filme medida que você tá vendo né quer dizer são filmes que depois eu li bastante sobre eles fiquei sabendo ah aquele filme foi um clássico do cinema nos anos tal não quer dizer quando você tá assistindo um filme quando ele tá em exibição você não você próprio tem que formar sua opinião e eu fico contente de de ver que a opinião que eu tinha sobre muito dos filmes que eu assisti no passado que foram milhares de filmes ainda eu tenho recordação dele muito parecida com a que a sensação que eu tive na época né Então o Deus diabo por exemplo é um filme que foi considerado uma coisa do outro mundo naquela época e realmente é um filme importantíssimo hoje você assistindo você começa a ver o as coisas furadas do filme né coisas que eram muito importante na época hoje deixaram de ser então quer dizer é quase impossível que uma pessoa assistindo hoje ao filme tem a mesma impressão de que de que uma pessoa que viu na época Ah mas eu fui uma das pessoas que trabalhou na restauração nova que ficou pronto em 2022 e pô passou no mundo todo o pessoal ainda tem interesse não não sem Du Claro um filme muito interessante um filme importante né no cinema brasileiro deve ser um dos melhores filmes do cinema brasileiro não é o que eu mais gosto de assistir entendeu Eu agora eu tenho em casa 4 5000 DVDs de de cinema de todas as as épocas países línguas estilos gênero etc né então eu tenho todo S americano desde o mudo até anos 70 tem a novelho vaga inteira tem os clássicos franceses inteiros tem o ne itano tem sistema mudo completo inclusive francês enfim tem E tem também sistema inglês sistema japonês tem brasileiro etc então quer dizer agora assim como eu não vou mais ao cinema vai ver filme na tela porque não me interessa por filme nenhum que que esteja sendo feito há muito mais muito tempo então eu continuo gostando de cinema mas para rever os filmes do passado não por saudosismo de jeito nenhum mas por saber que são produtos culturais importantes que reflete uma época né do do país do próprio cinema então o filme brasileiro que eu tenho mais prazer de assistir de novo não é o Deus de Terra do Sol e sim todas as mulheres do mundo do Domingos Oliveira resolvi dar a festa mesmo com o Síndico reclamando aí chamei todas Aquelas nossas mulheres a Martinha maconha foi Não não foi é um dos meus filmes favoritos um filme marcou minha vida também eu pergunto nesse momento como foi a primeira vez que você viu o filme foi na própria na própria semana que estreou naquela época os filmes estreavam numa quinta-feira e não na segunda como hoje eu fui ver na própria fui deve ter ver naquele fim naquele primeiro fim de semana e fiquei impressionados porque era um filme inteiramente diferente do cinema brasileiro daquela época né foi no ano de 66 cinema brasileiro daquela época estava completamente voltado para pro filme social né de denúncia uma coisa muito baseada no neorrealismo embora alguns diretores tivessem uma formação mais Godard deana mas o que predominava realmente era uma espécie de neorrealismo era o antonioni né E era o neorrealismo Rosselini principalmente então de repente você vê todo mundo todo mundo queria ser sério né o cineast do cinema Novo todos tinham uma preocupação em mostrar o Brasil pro espectador Brasileiro né fazer muito filme no nordeste fazer muit fil com temática gente pobre né subir na favela etc aí de repente você vê um filme como todas as mulheres do mundo que se passava em Copacabana e Panema os personagens eram pessoas de classe média usavam terno e gravata a moça era bonita tinha sexo tinha humor tinha comportamento cheia de tudo né E muito muito bem feito muito mais bem feito inclusive do que grande parte dos filmes do cinema novo e dizia-se que inclusive até por isso o pessoal do cinema novo não gostava de todos os lugares do mundo porque o Domingos Oliveira não fazia parte da turma do cinema novo ele era um cara que trabalhava muito com teatro Tinha pouca experiência até em cinema e como é que pode um cara como esse que nós não conhecemos que acabou de chegar fazer um filme desse jeito entendeu então quer dizer havia assim uma coisa meio de diferente em todos os lugares do mundo relção a o que se fazia no cinema na época e eu fui assistir e fiquei deliciado com aquilo né fui eu eu Não assistia novela de televisão mas a leira dinís tava fazendo uma novela na época o shake de agad que aliás é citado no filme Então para mim Leila Dinis foi uma novidade completa nunca tinha nunca tinha visto a Leila né e e foi impressionante né o impacto dela na na na tela a presença dela e tudo mais e o cinema novo acusou né o Domingos de corromper a estética do cinema novo para fazer um filme romântico e falando em filme romântico eu sei que você obviamente conhece a história desse filme que é baseado no casamento real né do domingos e da Leila que Ele pisou na bola ela largou ele e ele fez o filme em várias entrevistas ele diz isso ele FZ o filme para tentar reconquistar ela e eu gosto de dizer que aconteceu uma maldição diferente porque o desejo dele se realizou depois que ela morre né Aos 27 anos num acidente aéreo voltando de um festival na Ásia o Domingos Oliveira praticamente fica condenado a falar sobre ela a vida inteira eu acho uma ironia às vezes até literária esse filme ter sido tão bem sucedido com o desejo dele que o desejo dele se realizou mas de outra maneira eu acho a coisa mais engraçada do filme não sei se você já pensou nisso ah Paulo aqui está você nesta curva do caminho uma mulher no mar outras na terra não diz não a uma mulher nunca seria impiedoso imoral e indecente eu conheci o domingo passei uma vez 4 horas seguidas conversando com ele eu ten impressão que o nome da leira não foi citado nenuma vez né agora a Leila eu conheci a Leila né a Leila era muito bonita na vida real tinha uma cor linda né assim uma uma mistura de dourado com com com avermelhado né de praia né e muito engraçada né dizer início da mamente não havia possibilidade de um homem cantar Leila entendeu di qualquer sujeito né que vi força de Caras e Bocas para Leila eh para tentar conquistá-la levava uma enquadrada direto Qual é Afinal o cara tá querendo me comer quer uma coisa assim entendeu só vai me comer se eu quiser entendeu Como aquela aquela F famoso diálogo dela com com General que ia toda noite lá no teatro na na Banda para para ver né e ia o camarinho depois lá para cantar ela oferecer dinheiro para ela e ela recusava mandava o cara embora aí até que o di o cara falou mas você dá para todo mundo aí ela disse eu dou para todo mundo mas só para quem eu quero né na entrevista do Pasquim foi muito engraçado porque ela tava lá né com 10 caras do pasquin Em volta dela né Tarcio Paulo Fran milos giraldo en fio aquela gente toda do Pasquim E aí eu acho que o Tarço perguntou para ela assim você já transou com algum de nós aqui aí ela olhou em volta olhou um por um e disse não mas estamos aí né É muito bom uma vez Eu consegui entrevistar o Domingos também ele se mostrou surpreso ele falou que não entendia como é que o filme ainda faz sucesso eu falei para ele que pô o filme apresenta uma solução para essa dúvida do Paulo José né Paulo José também um dos meus atores favoritos que ele passa o filme inteiro nessa questão né com a namorada dele mas ele deseja outras mulheres o filme todo um flashback né uma história que ele tá contando pro militi e eu falei para ele pô Domingos mas o filme Poa uma pergunta e responde o cara casou com ela resolveu na dúvida né tá Tá amando se você se vê com essa mulher mesmo que você tem outras dúvidas casa dá o mergulho não acho que tem a ver com com tudo né A História bonita tem uma coisa Espetacular no filme que é o ex-noivo da leira né ele ele morra no filme também ele trabalha no um banco né Aí ele ele despede o fim de semana vai dar tchau para todo mundo e aí sai aí o Domingos não filma a cena atropelamento filma só o a batida né Aí você sabe que ele foi atropelado e ele morre aí a Leila fica na fossa por causa da morte dele isso era uma coisa que era muito presente na na época essa coisa da da fossa né que era uma certa angústia que batia nas pessoas principalmente n moças né Durante algum tempo não tinha muita explica ação para isso então a o Jaguar até inventou um uma personagem chamada Tânia que vivia na fossa e ele desenhava fossa eraa um buraco no chão que a moça que ficava lá aqu era personagem chamada Tânia porque você nunca via né os caras conversavam com ela através daquele buraco Ela vivia na fossa eh eu próprio morei durante 3S anos num lugar chamado Solar da fossa que tinha aqui no Rio que era um lugar famoso ali em Botafogo e onde moravam jovens jornalistas escritores atores músicos compositores né todo mundo duro todo mundo jovem ninguém famoso ainda né tinha o Caetano tinha o Paulinho da Viola tinha o a Itala nand a Bet Faria enfim todo mundo começando inclusive eu um lugar muito moderno inclusive as pessoas todas se comportavam bem bem H estilo das pessoas daquela época e tinha esse nome de Solar da fossa né enfim então é o o filme representava bem todo o espírito daquela época e uma outra coisa também sensacional a quantidade de gente né que entra no filme tem sequência assim de um segundo né de 30 segundos que eram pessoas da época muito conhecidas então aparece a Vera Viana aparece uma das irmãs Marinho eram pessoas da e atores também né tem a Marieta sever Joan fon então o filme é quase uma uma antologia de pessoas da daquele tempo tinha Joan fon era muito diferente o pessoal do cinema novo não gostava do filme pior o cinema novo né filme pode ser visto hoje com muito prazer ao passo que muitos filmes do cinema novo hoje são completamente quase impossível você assistir tô com a vontade danada de dançar vamos dançar mar Alice tem uma boate que eu ia com a minha turma que é animadíssima genial Vamos mas agora eu já ia dormir né Paulo ah deixa disso Nené a vida é curta vamos lá vem se você quiser dorme lá você obviamente é um Historiador do Rio de Janeiro é a sua presença na vida que tá mostrada no filme você era Como No Filme você se relaciona na juventude com esse filme de uma maneira pessoal como é que é isso não quando o filme foi quando eu vi o filme Eu tinha 18 anos e eu era muito novo para ter aquele tipo de vida que os personages levavam né nitidamente o Paulo José é um cara assim do seus 25 anos ou talvez até mais né a Leilo um pouco menos mas isso faz uma grande diferença o que aconteceu que D ali do ou TR anos no máximo assim aí eu com uma idade mais parecida com os personagens comecei a ter uma vida parecida com a deles né isso sem menor dúvida né são boas memórias dá para lembrar de alguma coisa eu tive uma vida excepcional para mim na minha opinião né porque aos 20 anos de idade no ano de 68 que é o ano considerado emblemático né todo mundo fala ah o ano de 68 e realmente o ano 68 Foi incrível né na verdade o ano 67 já foi incrível né qu eu acho que no Rio o ano de 68 começou na verdade em 67 eu tava no primeiro ano da faculdade e já tava começando a trabalhar na imprensa já era do Correio da Manhã era repórter né depois fui PR manchet depois eu voltei pro Correio da Manhã tudo isso em dois anos Mas no ano de 68 basicamente eu tinha 20 anos de idade era repórter do Correio da Manhã Estudava na faculdade nacional de filosofia er a famosa ffia que era o centro da agitação estudantil as assembleias todas onde saiam as passeatas dos líderes estudantis eu morava no solar da fossa onde morava aquela aquela turma toda eu pertencia à geração Pai Sandu né que era pela pessoas que iam a cinema pa Sandu na na sessão de meia-noite das sextas-feiras onde passava os filmes que iam sair nunca mais I poderiam ser visto iam ser destruídos pela lei da época né E era uma um um ponto de encontro de de pessoal de cinema de de música popular movimento estudantil que todo todo mundo lotava o cinema Pai Sandu naquela sessão de sábado à meia-noite como se não bastasse isso eu já tinha sido preso numa passato estudantil então quer dizer todos os clichês da época né eu fiz viu Ou seja eu era repórter do corre da manhã Estudava na fnf morava no celular da foça era da geração pandu já tinha sido preso na passeada Então quer mais do que isso você não pode querer aí você completa isso com o fato de que naquele tempo tava começando a pílula anticoncepcional que era vendida só por receita médica mas a já já estava em circulação e já fazendo uma enorme diferença nas relações entre rapazes e moças naquela época Ainda mais aqui no Rio que havia já uma uma Juventude muito pra frente né então por exemplo no no final do primeiro semestre da da faculdade em Junho eu fazia o curso de Ciências Sociais em junho de 67 as moças fizeram uma enquete lá entre elas para saber se ainda tinha alguma delas virgem e tinha só tinha uma virgem olha só que eram todas moças de de entre entre 19 e 21 anos né só tinha uma virgem isso é sensacional isso é uma coisa bem bem da época né é uma história que cabia no filme As Mulheres resolveram ser Independentes o que complica as coisas de modo definitivo queria muito agradecer aqui a entrevista conversa seu tempo sei que tá muito atarefado aí no novo livro você quer recomendar algum lugar pros ouvintes seguirem você eu escrevo na folha né quatro vezes por semana no jornal impresso e também eu saio no site da folha todo sábado domingo quarta e quinta eu tô no site da Folha de São Paulo né tem que ser assinante da folha para conseguir me ler eu não tenho nenhuma rede social mas eu eu tô nas redes sociais da da Eloísa seix minha mulher né ela bota coisa meu respeito de vez em quando na nas redes mas eu eu sou muito ocupado para para ter rede social eu tô trabalhando num livro pesquisando há quase 6 anos e tô desde o começo do ano escrevendo e preciso terminar no final do ano para sair em abril maio do ano que vem Isso realmente me toma todo tempo do mundo muita inspiração aí pro novo livro Estaremos aguardando obrigado a você saravá Obrigado quando a gente não pode fazer nada gente aac avac ciscando [Música] chegamos ao fim de mais um episódio de cinema brasileiro se vocês tiverem curtido considere seguir e deixar o seu like E lembre que você pode ouvir todos os nossos episódios na Apple podcasts no Spotify ou no YouTube se quiser mais conteúdo chega lá no meu Instagram @ Olin Meireles ou no meu site metropolis.com barlin Meireles e bora falar de filme Até a próxima cinema brasileiro é uma produção do Metrópolis com João Andrade e F na montagem e na finalização obrigado [Música]

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