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A pandemia de ‘The last fo us” pode acontecer na vida real?

A pandemia de ‘The last fo us” pode acontecer na vida real?

Será que a pandemia de The Lash of Us poderia acontecer na vida real? A série baseada no videogame de mesmo nome voltou pra segunda temporada e eu resolvi conversar com especialistas para descobrir o que é verdade ou ficção nesse enredo todo. E claro, eu comecei do começo, a contaminação. Se você nunca jogou The Last of Us, talvez não saiba, mas a forma de contaminação é diferente no jogo e na série. No videogame, a pandemia começa a partir de esporos do fungo, enquanto na série é a partir da comida. mais especificamente da farinha. Isso faz sentido? Os fungos podem utilizar basicamente qualquer coisa eh como substrato. A questão principalmente de grãos e alimentos, né, que são originados a partir de de grãos, eles podem então servir como substrato pro crescimento desses fungos. No pré-processamento, durante a armazenagem desses grãos, nós vemos bastante contaminação fungic espécies, citando aspergilos, penicílio, que são importantes patógenos humanos também. E na questão do pós processado, esses alimentos ainda continuam com os nutrientes necessários pro crescimento fúng. Então, né, essa contaminação pode ocorrer no pré-processamento e pós-processamento. E talvez você esteja se perguntando, não existe um controle de patógenos durante a produção de alimentos? No caso do processo alimentar, existe um controle microbiológico que tem que ter, porque se espera assim dentro do cor espera-se uma partícula, uma quantidade X, você não consegue eliminar totalmente. O que ocorre, o que ocorre às vezes é após a condição de armazenamento, entendeu? Eh, o manuceio do do do da da faria, ela pode se contaminar. E o a contaminação, a gente diz que é um uma grande contaminação, tem uma carga parasitária muito alta, tá? Mas mesmo que a contaminação da série fosse possível, seja na etapa da embalagem ou em qualquer outra, para chegar ao nosso cérebro e nos transformar em zumbis, o fungo teria que sobreviver a nossa digestão. E isso será que é possível? Um ambiente ótimo, por exemplo, para um fungo crescer, em sua maioria, a gente começa falando de um pH em torno da neutralidade, né? entre cinco e 7 é um pH ótimo pra maioria das espécies. Se nós partimos dessa premissa, já no estômago, os fungos seriam completamente inativados. Se você não se lembra das aulas de química, o potencial de hidrogênio popularizado como pH vai de 0 a 14. O pH ácido é entre zero e seis, um neutro é sete e um básico é acima disso. O nosso estômago produz suco gástrico, que é ácido. Para se ter uma ideia, a uma pessoa saudável e em jejum, ele ficaria entre dois e três, ou seja, bem abaixo do que é favorável à proliferação da maioria dos fungos. Mas além do suco gástrico, a gente ainda tem uma outra característica que nos protege dos fungos, a nossa temperatura corporal. que os fungos, em sua maioria, eles sobrevivem melhor à temperatura ambiente. E nós, humanos, animais em geral, nós temos uma propriedade importantíssima chamada de endotermia, que é o nosso principal fator de proteção contra esses organismos fungicos encontrados no ambiente. Endotermia é quando um animal, especialmente aves e mamíferos, que somos nós, mantém a temperatura corporal acima da temperatura ambiente. No nosso caso, a gente fica ali na casa dos 37ºC. E para manter isso assim, usamos a energia obtida através, por exemplo, da nossa alimentação. A questão é que parte da narrativa da série diz que o aquecimento global teria forçado os fungos a se adaptarem a temperaturas mais altas, o que daí fez com que eles sobrevivessem à nossa barreira térmica de 37ºC. De fato, a temperatura da Terra tá aumentando. Uma pesquisa da Organização Meteorológica Mundial apontou que do período pré-industrial para cá, a temperatura global já aumentou mais de 1,5ºC. Isso pode parecer pouco, mas já é suficiente para ter efeitos sérios nos padrões climáticos e na biodiversidade do mundo. E claro que os fungos, como qualquer ser vivo, também sentem isso. E já tem até uma espécie conhecida que começou a infectar humanos depois de se adaptar às novas temperaturas. Então, a questão associada às mudanças climáticas aos aos fungos é muito importante e nós já vivemos essa realidade, conforme eles colocam na série que essas mudanças climáticas levaram a mudanças nesses fungos. Nós já observamos isso na no nosso dia a dia, né? Por exemplo, no Brasil hoje nós temos uma circulação do super fungo que dizemos que é Candida auris, que era um fungo, uma levedura, que ela era uma levedura ambiental. Então ela era um fungo ambiental. mas que com a com as mudanças climáticas, o aquecimento global, né, esse aumento da temperatura, ela se adaptou e então começou a crescer a temperatura de até 45ºC. Quando ela tinha o crescimento somente no ambiente, ela não crescia na temperatura do ser humano, 37ºC. Mas é claro, a Candida Aures não transforma ninguém em zumbi. Esse não é o modo de ataque dela. E também, por enquanto, não existe fungo que consiga agir tão rápido quanto acontece na série. No caso da série The Lash of Us, se fala especificamente sobre uma espécie de fungos que existe na vida real e que seria causadora da pandemia, a cordíceps. Ela é conhecida por atacar insetos. Na verdade, essa espécie é bem hiperfocada em formigas por causa das características que permitem a sua sobrevivência mesmo, como por exemplo a temperatura. Mas com aquecimento global, quais será que são as chances dela se adaptar e começar a infectar humanos, como aconteceu com a Cândida Auris? A questão da série, então, traz essa abordagem, né, de migração interespécies de, né, de fungos. E isso é o que nós hoje em dia eh temos que nos preocupar bastante nessa questão de adaptação, aumento de temperatura e vencimento da barreira térmica que nos protege. Questão do cordíceps é um fungo que é um patógeno específico de insetos, que nós chamamos de entomopatógeno. Ele em si não provocaria infecções em humanos. Isso nós não devemos nos preocupar, mas existem outros fungos na natureza que se sofrerem essa adaptação térmica podem vir, né, a virar importante patógenos humanos, tá? Isso significa que, pelo menos por enquanto, a gente não precisa se preocupar com o cordíceps. Agora, uma outra coisa que me chamou atenção em The Last of Us é que tanto na série quanto no jogo, os fungos conseguem se comunicar entre si e essa comunicação acontece à distância, de hospedeiro para hospedeiro mesmo. Será que isso é possível dessa maneira? Essa questão de comunicação entre os zumbis é muito bem fundamentada biologicamente. Nós temos que lembrar, eles mencionam isso na série também, que os fungos e da série o cordíceps, eles formam redes no solo que se comunicam entre si como se fossem redes neurais. Isso é completamente plausível. maior organismo vivo no mundo é um fungo que se chama armilária, que fica localizado no estado de Oregon, nos Estados Unidos, que ocupa uma área de vários hectares. E ele é um fungo que ele basicamente está associado a uma floresta, os vegetais que compõem essa floresta. E ele forma então uma rede gigantesca de filamentos nesse solo. E a gente consegue dizer exatamente que é um organismo só, porque todas essas estruturas filamentosas dos fungos se comunicam entre si. Então o que é abordado na série é praticamente biologicamente plausível. Mas uma coisa que nos leva a questionar é como os zumbis infectados sendo satélites desse organismo que está no solo, eles conseguiam conseguiriam transmitir essa mensagem pro organismo principal. E isso é que nos levanta esse questionamento da ficção. OK? Já deu pra entender que, pelo menos por enquanto, a maioria dos aspectos científicos da série tá mais no campo da hipótese e da possibilidade. Mas uma coisa dita no primeiro episódio da primeira temporada é verdade, não existe vacina para doença fúica. Não existem. Existem várias pesquisas que abordam, né, o desenvolvimento de vacinas antifúnicas, principalmente abordando como alvo fatores de virulências fúnsicos, mas ainda estão em fases muito eh primárias de desenvolvimento, né? Só ainda escala laboratorial, né? Existem poucas que foram já para testes clínicos, mas ainda não é uma realidade no nosso mundo. Quanto aos tratamentos antifúngs, outra má notícia, eles também são escassos no mercado. E segundo as fontes com quem eu conversei, isso tem dois motivos. O primeiro é a proximidade evolutiva que esses seres vivos têm com a gente. Nós vemos que os fungos são muito similares à gente. Os fungos também são organismos eucarióticos. Então, numa escala evolutiva, eles estão muito mais próximos à gente do que plantas, por exemplo, que também são eucariotos, né? Mas a gente tem ancestrais, né, mais recentes entre, né, fungos e humanos. Então eles compartilham muitas das vias metabólicas, né, da sua fisiologia. Então isso torna muito difícil a busca de alvos específicos nos fungos, né, para essas drogas atuarem. Porque se elas atuam em alvos compartilhados entre os fungos e os seus hospedeiros, obviamente elas vão causar toxicidade nesses hospedeiros. É que para funcionar sem efeitos colaterais nas nossas células, o remédio precisa atacar alguma característica do microrganismo que não esteja presente na gente. Três classes de drogas antifúng, os poliênicos, os azois e as alilaminas, por exemplo, tem como alvo um lipídio que compõe a membrana celular do fungo, conhecido como ergoserol. Ele é similar estruturalmente ao nosso colesterol, mas difere em algumas etapas da sua síntese. E é essa diferença que permite que funcionem sem atacar as nossas próprias células. Mas para além dessa proximidade evolutiva, ainda tem outro fator que dificulta a produção de novas drogas e vacinas antifúng, o interesse de mercado. Quando você vai comparar, né, taxas, né, endêmicas e tudo, compara fungos, bactérias e vírus e aí a indústria farmacêutica tem interesse para aquelas questões que tem maior taxa endêmica, coisa de mercado e tudo, tem uma escassez mesmo também de de de pesquisadores na área, tá? Mas respondendo a pergunta do início do vídeo, a pandemia de Theash é realmente possível? A princípio não, pelo menos não no mundo que vivemos hoje e não como aparece na série, com um quadro de infecção ágil, de horas. Embora o tempo de infecção varie de acordo com a imunidade da pessoa, ainda não existe fungo que tem uma ação tão rápida. Mas uma coisa é fato, o cenário do aquecimento global é sim preocupante e não só sobre fungos, mas sobre outros patógenos também. Neste momento, vendo uma situação com o vírus H5N1, essa gripe eh aviária, eh atingindo o principalmente os Estados Unidos, mas também outros lugares do mundo, onde há uma chance razoável de que dentro de algum tempo isso possa se espalhar pelo mundo inteiro novamente. Por isto eu acho interessante a série, porque ela faz a gente pensar nessa possibilidade, ter um pouco de preocupação no sentido de que a gente tem que proteger não só a si próprio, mas ao coletivo. Quanto mais a gente discutir isso, acho que mais próximo a gente vai estar de uma situação mais adequada para se prevenir de próximas pandemias. Nesse quadro, o Globo vai apurar o que é verdade ou não em séries e filmes que você gosta. Então, se você curtiu esse episódio, deixa aí o seu like e comenta qual é o próximo filme ou série que você quer que a gente cheque. Tchau.

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