[Música] Gazungum garungê. Um gazungum garagê. Um gazung garung. Um gazungum garap. Zamb. Somente mais não tirasse brotas de ninguém. Esqueça. Uma brincadeira. Foi para mim ser isso que o senhor passou, que o senhor passou toda manhã procurando por mim. [Música] Esperei a todas as tardes. Minha maior esperança era voltar a vila. Está trancada por fora. Meu Deus, o que vamos fazer? [Música] Sim, claro. No momento me parece a mais apropriada. A vida se tornaria uma experiência muito mais triste e mais dolorosa do que já é. Te admiro, te respeito e te [Música] amo. Olá, pessoal. Eu sou a Ana Luía Santiago, colunista do Globo e esse é o videocast novelão. Aqui a gente trata de produções marcantes da nossa televisão. O tema hoje é a Escravisa de 76. É uma obra de Gilberto Braga, adaptação do livro de Bernardo Guimarães. E para falar dela, eu tô aqui com os protagonistas, Edvin Luiz, Lucía Santos. Obrigada pessoal pela presença. Você pelo convite, foi ótimo. Queria começar com Lucélia, 19 aninhos na época, né? Quem era aquela Lucélia? Que sonhos ela tinha ali? Sonhava em fazer novela mesmo? Quem era aquela aquela atriz que tava surgindo ali naquela? Era exatamente essa que tá aqui hoje. Literalmente só um pouco mais velha, mas totalmente a mesma pessoa, não é? Verdade. Não mudei nada. Lu sempre falou que a pessoa mais fiel a si própria é é verdade. E é muito pragmática e focada, né? Uma, posso me meter? Lucélia vendo de longe. Eh, eu que tenho um uma história com ela, é impressionante. A Lucélia, aquela de 19 anos, você olha Lucélia brincando com o Neto ou no estúdio de gravação. É uma menina, é uma menina de 19 anos. Você fala: "Gente, essa mulher tá com 68, né?" Ainda não completei. 68 por aí. Eu tô com 78. Tô. Enfim, a Lucélia continua uma uma mente, uma mente e um estado de espírito também corporal de um adolescente. É impressionante. Muito obrigada, Edwin. E a recíproca é verdadeiro. O Edwin tá muito bem. A gente teve a oportunidade de conviver juntos há pouco tempo. Eh, não, você é um menino. É impressionante porque eu conheço muitos homens da idade sua e você realmente tem um pique e uma disponibilidade paraa vida que é e uma saúde física que é muito bonito de ver. Ótimo. Olha, parabéns. Começou um programa, começamos bem com esses elogios todos. Maravilha. É muito bom. Mas e aquela aquela atriz era sonhava em fazer novela? Realmente, naquela, olha, eu sempre fui muito, muito, muito diferente do romantismo que vocês fazem sobre a personalidade de uma atriz. Uhum. Eu era uma pessoa de 18 para 19 anos, 19 anos, mas eu era totalmente madura. Eu tinha feito um curso de formação e eu era muito séria. Então, eu me considerava uma atriz pronta para trabalhar em qualquer veículo, televisão, cinema, teatro. Eu era pronta. Eu tinha feito formação com Eugênio Cusnat, o que não é pouca coisa. E eu me sentia muito segura. Então, eh eh é muito raro você ter um ator, uma atriz dessa idade Sim, tão seguro quanto eu era. Eh, e isso eh, não era uma pretensão, era uma realidade. O que eu não conhecia, eu disse isso a entrevista que eu dei paraa Globo News há pouco, era o veículo, era o enquadramento de câmeras, que eu no teatro eu dominava muito melhor o espaço. E quando você tá num estúdio, a relação com a câmera muda totalmente o padrão da atuação. E aí o Rubens de Falco, que foi a primeira pessoa com quem eu contracenei, foi um gentleman. Ele foi extraordinário comigo, extremamente compassivo, porque ele percebia que eu eu tinha uma concentração absoluta e ele percebia que eu me perdia na com as câmeras e ele me posicionava em cena. Na cena, durante a cena, a gente tava contracenando, ele me ajeitava um pouquinho para me favorecer, sabe? Eu fico emocionada quando eu falo isso, porque é porque é lindo um colega que ajuda uma atriz iniciante dessa forma tão bonita. Foi, eu tive muita sorte, né? Muita sorte. E Edvin, quando você soube que ia fazer parco com a Lucélia? Quando vocês conheceram, vocês conheceram na na novela mesmo, né? Entrou depois. Eu conheci a Luci muito especial. A Luci já era um fenômeno quando eu entrei, porque eu entrei acho que uns três meses depois, se não me engano. O Aladin deve saber melhor do que eu. O Aladin é um é um rapaz que conhece tudo da da história da Lucélia, tá aqui junto com a gente, né, Aladinho? Mas enfim. Ah, eu eu entrei no hoje a festa é sua. Foi lá que eu entrei na TV Globo. Foi a primeira vez. Incrível. Me levaram para lá. Eu fazia uma peça de teatro. Eu tinha vindo fazer a margem da vida com a Beatri Segal. E aí eu já tava contratado pela TV Globo sem gravar, sem gravar nada. Fiquei esperando o meu momento. Não assistia a novela porque eu fazia teatro. Aí um dia falaram assim: "Vamos gravar o a mensagem de final de ano da Globo". Aí cheguei lá tímido, eu era muito tímido, sempre fui piadista assim, mas piadista assim de três pessoas. Mas cheguei muito tímido e eu fui abraçado por essa criatura que já era um fenômeno, um fenômeno nacional. Eu fui abraçado por ela de uma forma tão carinhosa. Ela me pegou, ela percebeu, deve ter percebido, em cima dos seus 19 anos, me pegou pela mão, não me soltou. E onde ela ia? Porque ela sabia, devia saber, a gente nunca conversou sobre isso. Ela devia saber que ela iria aparecer, ela tava fazendo muito sucesso, que iam enquadrá-la. Ela me agarrou e onde ela onde ela ia ela me puxava e eu fui atrás dela. Então eu fui muito abraçado por ela logo no começo da novela. E a gente tem uma foto linda, nossa desse dia. Tem, tem, tem uma foto linda. Eu tenho, eu linda, uma luz incrível. Ah, me manda essa foto aí. Tô no teu, tô deitado em você, no meu colo. É, é linda essa foto. A química então já bateu de cara ali, né? Pr a química já bateu de cara ali pr pra novela. Ah, Luciano, é, é difícil a gente falar assim, que parece que eu estou aqui para falar. Mas a Luciana é uma pessoa muito especial. Ela realmente é uma pessoa especial. O sucesso que ela fez nesse país e no mundo. Eu sempre falei, hoje em dia eu até precisaria rever um pouco, que eu sempre tive um pouco de humildade, mas eu sempre falei que a o resultado, a qualidade da novela se deve a ela. Eu acho. Aham. Eu acho, eu acho que foi um momento mágico entre um texto, um diretor, uma boa escolha que peitou. A Lucélia não era a a atriz ideal para aquele papel. Todo mundo foi em cima disso. Achavam que tinha que ser mais morena, que tinha que ser mais voluptuosa, mais mulher. E a Lucélia chegou uma menina branquinha com dentinho quebrado, né? tinha aqui na frente meio vesguinha, é impressionante. Tinha uma pintinha no nariz, enfim, não era, me perdoem, eh, não era aquele protótipo, né, da protagonista de uma novela que enlouquecer três homens, o R de Falco, Pirilo e eu, né? É verdade. E a mágica que causou no mundo, gente, no mundo ela foi idolatrada por Fidel Castro, gente. Não é pouca coisa. Parava-se a parava-se a a os discursos para ver. Enfim, eu acho que a Lucélia é grande, é uma grande ah fator do sucesso. É claro que tem outras coisas que deram um caldo junto. Eh, aproveitar o gancho do que o Edmund falou da do sucesso internacional, segundo a Globo, a novela já foi exportada para mais de 120 países e a a exibição recente agora foi na Polônia, na TVP Cobieta, que é um canal dedicado. Tá na Colômbia, atualment, na Polônia. Na Polônia. Polia já passou, né? Nossa, tive lá em 86, nós somos juntos. Não, eu fui com Rubens, a gente era artista pop. Não, mas já passou em 86 na Polônia. Uma reprise é exibição mais recente, mais de 120 países. E queria aproveitar então para mostrar também que aí aproveito vocêa já conta das viagens dela que o o Edwin já falou de Cuba. Aqui ó, o álbum da época de figurinhas. Esse é de Cuba. É de Cuba. O álbum de figurinhas da época. Tem aqui também, ó, o vinil da Venezuela. Olha que bonitinha. Olha aqui. É cubano. Venezuela. Venezuela. Aquele álmeneuela. Eu cheguei aí. Você foi pro Venezuela também, né? Fui rapidamente. Nem lembro. Fomos juntos para Venezuela. Fomos juntos. Eu lembro logo todas as as coisas internacionais. E aí vocês já comentam do ó, esse é o livro na Alemanha. E esse aqui tô que eu tô muito interessado em saber como foi esse show na Hungria que acho que você cantou lá. Foi isso? Não, foi um evento como tinha eh quando a gente fazia umas viagens assim tinha ele sempre escolhiam uns eh uns espaços grandes, porque tinha Mis pessoas da Polônia. Foi assim, na Polônia foi uma loucura. Na Polônia a gente não conseguia sair do hotel, parecia eh grupo de de rock rock que a gente tinha que passar pela cozinha, entrar e sair do hotel pela cozinha do do hotel. É. E tinha a segurança no corredor na Polônia. Era era um horror. Chama aquilo todo uma loucura. A gente acenava da janela pra população, eu e o Ruben, e ele dizia: "Que isso?" Falei: "Vai lá, acena, acena". Aí a gente combinava de 10 em 10 minutos a gente sair e acenava pra população. Mas isso aí, eu não sei se foi na Hungri, na Polônia, nos dois lugares teve algo semelhante que eh eles lotavam estádios esportivos. Na China também, o meu prêmio na China foi tinha mais de 15.000 pessoas ou mais, era um estádio gigante, que umas 30.000 pessoas e você não tinha o que fazer, né? Você vai receber um prêmio num lugar de 30.000 pessoas. Eles estão esperando uma uma cantora pop. Aí eu não tive dúvida, comecei a cantar qualquer coisa. Tava com uma roupinha assim. Isso foi na China. Eu tava de tule preto com uma fita vermelha na cabeça. Aí eu comecei a cantar, eu não sabia, eles não entendiam nada do que eu dizia. Aí eu cantava o chorinho que eu cantava em Lola Moreno, só que eu não me lembrava a letra. Inventava. Aí eu falei pa e fiquei de pa pá na China. Aí uma meia hora. E lá também eu cantei alguma coisa. Se foi na Hungria, eu cantei qualquer coisa em húngaro. E se foi na Polônia, eu cantei em polonês. E num desses aí, dessas aparições, eu eu tava com Pedro. O Pedro foi comigo e eu também tava com alguma roupa de bailarina assim. O Pedro tava com um terninho, com gravatinha, borboleta. Eu acho que num desses dois aí, mas não era que eu fui cantar, não é isso. É que chegava na hora as pessoas queriam ouvir sua voz. Sim. Não é verdade? Não adiantava você falar numa língua que eles não entendem, né? Com tradutora. Então eles queriam ouvir a minha voz. Na Polônia, por exemplo, a novela não foi dublada, ela foi narrada. Então, eh, eles, quem narrava era um homem. Então era um sistema assim de assim agora Isaura, tipo rádiovela, agora Isaura aproxima-se de Álvaro e Álvaro diz aí tinha as nossas vozes por trás da narração e a voz dele original falando Isaura. E eu assim Álvaro Mas ele diz assim e ela responde Álvaro a ver no Polônia Polônia. Isso foi na Polônia. Eu achei estranho. Dos poucos países em que eles não eh dublaram Uhum. A novela, foi na Polônia. Eu vê que eles não tinham ainda o sistema que os países do leste europeu eles façam isso. Porque eu assisti também, não é Leste Europeu, mas assisti na Turquia novelas que não eram turcas, que era assim, narradas por cima da voz. Aham. E vi em algum outro país, acho que na Jordânia. Eu sei que em alguns países eu vi isso, é estranhíssimo, mas é muito ruim, por sinal. É, mas o público o público de qualquer maneira gosta. Onde foi que eu que aconteceu uma coisa que era fenomenal? Eu parei, foi em Budapest, que era uma nevasca, era um inverno, o Pedro tava comigo e era um inverno rigorosíssimo, tipo quase 40º negativos, os caminhões do exército tirando neve das ruas de manhã pros carros coletivos conseguirem entregar pão, leite, que tinha isso ainda. E com correntes nas rodas. É tração, tração, tração. Era uma coisa brutal o o inverno. E nesse dia eu tinha uma manhã de autógrafos do livro com a capa que era uma foto minha e a tradução do romance original eh para para eles. E tinha uma fila, quando eu cheguei no lugar que era um lugar gigante, era um centro comercial que era quem o patrocinador da minha viagem era esse cara, o dono desse centro comercial. Tive seu governo, né? Porque acho que era tudo estatal. Quando eu comecei a dar autógrafo às 8 horas da manhã, 9 horas da manhã, já tinha uma fila de, sei lá, você não conseguia enxergar a última pessoa, as pessoas estavam expostas ao frio. Uhum. Durante horas. Eles tinham chegado lá às 5 horas da manhã para pegar. É. E eu achei aquilo tão comovente e uma altura passou por mim um menino que não enxergava, ele era cego. E então eh e ou seja, eh ele não viu a minha imagem. Isso é que eu parei porque eu fiquei pensando nisso que eu vou falar agora. Ele não viu a minha imagem, portanto, e ele também não podia eh ouvir a minha voz porque tinha essa narração ou a dublagem. Acho que nesse país a novela foi dublada. Então, qual era o o meio hábil de conexão que se estabeleceu com ele? Não foi a imagem, não foi a voz, porque ele nem ouviu a minha voz, ele nem eh viu a minha imagem? Eu fiquei muito emocionada com a força que que teve sobre esse menino, que eu parei assim, que eu eu quis me aproximar mais dele, eu quis falar alguma coisa com ele na língua, eu quis eh aí eu saí de onde eu tava, dei um abraço nele para transmitir um pouco mais de de proximidade, sabe? Isso foi das coisas que mais me impressionou nessas minhas viagens, foi esse meu encontro com esse garoto. Ele devia ter uns 10 anos de idade. Então a novela tem esses fenômenos. Essa novela é um fenômeno. Em todos os lugares onde ela passou, ela foi um fenômeno. Na Bójnia foi um fenômeno. Parava guerra de fato. Era uma combinação. Na hora da novela não se atiram bombas. Era uma coisa. Na Itália puxavam muros. Iaura Líbera num outro país, eh, eu não sei se foi na Polônia, em algum país, eh, faziam vaquinha e mandaram dinheiro pro Brasil. Eu quero essa grana para liberar esaura, para comprar a minha alforria. E mandaram o dinheiro, ficou para mim. Eu te dei o forrir. Fui eu que dei o forrio. E uma vez o Pedro foi estudar na Inglaterra e as colegas dele tinham eram desse país. Eu não sei se foi Polônia. E eu sei que quando eles souberam, eles souberam que o Pedro era meu filho, elas agarraram. O Pedro nunca mais largaram do pé dele. E elas contaram essa história de que acho que a mãe delas tinha mandado dinheiro pro Brasil paraa minha liberdade. Que bonito, né? É impressionante. Éed, e você, você foi para onde exatamente? Você viajou para onde? Eu viajei, eu não viajei tanto não, porque eu sempre tava em trabalho, eu tava em trabalho. Logo depois, quando começaram essas viagens, a Lucélia, ela foi escolhida como uma espécie de embaixadora da Globo, né? Então ela tava com a Globo por trás para poder fazer isso. Eu não, eu eu tava fazendo, trabalhando. Então eu consegui para uma uma colônia portuguesa nos Estados Unidos, Cape Code. Hã, eu fui, eu me lembro dessa é New Bedford, se não me enganad. Aí eu fui para Venezuela, para Portugal e Cuba. Acho que foram essas quatro que eu fui. Cuba. Inclusive eu sou rei, quero que vocês saibam, eu sou o rei do carnaval de mealhada daquele ano. Maravilhoso. Eu desfilei com roupa de rei em cima de um carro alegórico, com um frio, com o frio de assim uns 12º, vestido de rei, com a minha rainha de bigode. Ela tinha um bigodinho, um portuguesinha, bigudinha. Aí eu e ela de rei, rainha do carnaval, a gente passava pelas ruas e a gente fazia para por causa da escravizaura. Congelando, congelando, congelando. E teve algum desses lugares que chamou mais atenção? Assim como a Luciéria teve essa história super emocionante, que mais me impressionou foi Cuba. Uhum. Porque para começar nós moramos muito distantes, né? Uhum. Cuba tá lá bem no norte. Nós estamos aqui no Sul. Ah, mas eu não sabia, não tinha essa informação que a mesma, o mesmo povo que veio escravizado pro Brasil é o mesmo povo que foi para Cuba. E a missigenação que houve nós com os portugueses e eles com os espanhóis deu uma raça muito parecida. Eles são muito parecidos com a gente. Fora que eles têm todo o toda a Umbanda em candomblé com outro nome que chama santeria, mas é o xalá, o chó assim manjá, tudo igual. E isso me impressionou muito. E a humildade do povo, eles eram tão receptivos, tão calorosos, tão amorosos e não eram eh no aeroporto também parecia que eu era um um popstar, né? Um um cara de rock and roll. Então aquilo lá, porque eu sou muito avesso a isso. Eu sou realmente muito avesso a a esse culto de de ego, de celebridade e tudo isso aí. Sempre fui muito discreto nessa parte. chegar nisso com placa com meu nome, com cartaz, aquilo me deu uma impressão, claro, carinhoso, muito carinhoso. Eu adorei, claro que adorei, mas eh eu me sentia meio fora daquela realidade. Fomos recebidos pelos pelos dirigentes do partido lá em Cuba e via a força dessa novela em países, sobretudo países aonde o comunismo, o socialismo, ã, eram o o o a a o a expressão política da do povo, porque a Lucélia, a escravizaura, representava o o povo, proletariado, escravizado, tal, isso. antes da revolução comunista, né? É claro que o Rubens de Falco representava o poder e eu representava o libertador. Então, o ideal, o ideário de do povo sendo salvo pela pelo socialismo era muito forte. ela representava realmente o proletariado. Então, havia uma identificação e até talvez uma propaganda, né, mais ou menos uma propaganda para os para os ideais deles, né? Uhum. Eu adorei. Foi uma época muito boa. Eu ia aproveitar o que você falou antes de timidez. Eu li uma entrevista que você falou que não achou que não vivenciou tanto sucesso assim, que você era muito tímido. Me conta um pouquinho disso. Não é tímido, é outra. É uma, eu nem sei te dizer o que que é. Na verdade é o seguinte, eu eu entrei para uma escola de teatro numa época extremamente politizada. Uhum. Você ser conhecido, você ser ah ah ah uma celebridade era uma coisa meio gosto paraa minha época. Era uma coisa vista como ah uma coisa meio burguesa. Uhum. O o legal era ser um ator de teatro para lutar contra a ditadura. Esse era o era a gente era formado dessa forma. A gente entrava na escola, a gente aprendia as matérias todas escola extremamente séria lá no lá em São Paulo, que é a D. E os professores todos socialistas, comunistas, socialistas que faziam a nossa cabeça de jovens como eu era. Então eu cresci com essa coisa. A televisão é o ópio do povo. Televisão é o óper do povo. A vida inteira 3 anos lá fazendo e depois mais três fazendo teatro. Então eu rejeitei um pouco isso tudo. Eu não aproveitei mesmo. Fora que eu era muito tímido e quando eu entrei na televisão eu já tinha uma personalidade formada. Eu era, eu tinha 29 anos já. Uhum. E a falta de liberdade que a televisão fez com que eu tivesse, porque eu eu não podia mais sair na rua. Três dias depois eu entrei. O primeiro capítulo que eu entrei foi no dia do Natal, dia 24 de dezembro de 1976. O Gilberto dizia que eu era o presente de Natal pros brasileiros. Me envaidecia um pouquinho, mas eu achava tudo meio esquisito, sabe? Então, acho que foi isso. Eu demorei um pouco para relaxar. em ser uma pessoa conhecida. Uhum. Demorei muito. Eu rejeitava. Eu eu era respondão, eu era grosseiro com algumas pessoas. Ah, quando eu vi alguém rindo, eu achava que estavam rindo caçuando. Depois eu fui entender que estavam rindo de de identificação. Tava, olha, né? E eu acho que falava assim, que que é? Que que é? Nunca viu? Quando eu tava sozinho, quando tava acompanhando, eu até que eu era mais simpático, sozinho era muito tímido. E para você, Luélia, essa relação com a fama como foi? Natural. Ai, que bonitinho. Para mim não é tanto, para mim isso tudo é muito natural. Acho que é um resultado do seu trabalho. E, e foi engraçado porque a novela explodiu na chamada. Eu eu só fazia teatro. Aí um dia eu comecei a gravar novela, eu morava ali nos jornalistas. ali no Leblom. Aí eu desci para ir gravar e o e os molequinhos do que moravam ali no jornalista Jasmim vieram me seguindo e falando falei: "I que isso?" Aí que eu lembrei, a chamada tava no ar com essa música. uma uma cena até bonita que eu andava numa lameda gigante com uma carruagem que o tinha tido uma abordagem do Rubens do vilão e eu fugia dele e me juntava a ao aos escravos que estavam caminhando com uma um carro de de boi e eu ia caminhando junto com eles. Essa era a chamada. Uhum. E com essa música e aí quando eles vieram atrás de mim cantando essa música, eu falei: "Nossa, eu achei tão forte aquilo". Aí eu percebi essa coisa da que é típico da televisão, né? Que você não tem isso no teatro. Você sabe que acontece uma coisa interessante que eu também são erros que a gente faz quando você é imaturo. Na minha cabeça, quando eu entrei pra televisão e fiz muito sucesso, eu achava que eu fazia muito mal o que eu fazia, que eu era um ator de teatro. Ah, e era muito bom. Eu tenho consciência que eu era bom em teatro. ganhei prêmio logo de cara na primeira peça. Enfim, eu era muito bom. Em televisão, eu sempre fiquei um pouco a quem. Então, eu achava que a novela fazia sucesso porque fazia sucesso, que eu não fazia sucesso nenhum. Eu era apenas uma coisa que tava lá aparecendo, fazia sucesso porque eu tava lá na novela. Eu achava que qualquer ator que entrasse numa novela faria sucesso. Qualquer um, porque eu não vi a novela. Eu sempre estudei de noite, fiz escola de teatro à noite, depois comecei a fazer teatro de terça a domingo à noite. Então eu não via mesmo, não tinha cultura. Hoje eu percebo que não. Para você fazer sucesso, você precisa ser bom, né? Você precisa ter uma alguma coisa com uma empatia qualquer com o público. Uhum. Eu não, eu eu me cobrava muito. Eu me lembro que teve um almoço porque o Herval Rossano, ele não dirigiu a novela inteira. Ele começou, quando eu entrei, o Herval já não dirigia mais. Ele tinha viajado, ele gravou só 20 episódios, só 20 episódios. Quando eu entrei, ele já estava em Lua de Mel com a Nívia, que eles tinham casado. Aí teve um almoço que eu fui, que tava o elenco todo, era pra despedida da da novela e eles foram, o o Herval foi, eu fugia dele porque eu falava: "Esse homem deve me achar tão ruim, esse homem deve me achar tão péssimo ator". E eu fugi de todo mundo. Olha que insegurança. Aos 29 anos com essas inseguranças. Aí ele me convidou para fazer a segunda novela, já trabalhei com ele. Aí trabalhei umas 12 com Herval. Nossa. É. E e Lucélio, o Edvin citou essa coisa da escalação, né? Que o próprio Gilberto Braga falou que não concordava com a sua escalação, né? Achava que deveria ser um outro perfil de atriz. Você soube disso na época que você tava fazendo? Não foi uma coisa que chegou para você e você ficou também não tava nem aí. Eu não nunca participei desses bastidores assim. Eu sou muito da minha e do trabalho. Eu fiquei super feliz quando chegou a oportunidade do contrato. Eu nunca prestei atenção em fofoca. Eu sou, eu tenho horror a fake news. Horror. E tenho, e o fake news é, hã, o filho da fofoca. Uhum. Né? E eu nunca consen o que tava se passando aqui ao lado de uma forma consciente. É porque eu tenho muita eh obstinação no meu caminho. Uhum. Eu tenho foco, então eu não vou olhar para para isso. Ah, o Gilberto eh depois se ele também se manifestou, é tudo uma questão dele, né? Uma necessidade dele. Eu não, eu não. E e acho que o resultado respondeu a a qualquer eh é verdade, dúvida que pudesse ter havido, né? Nossa, eu eu passei por várias coisas. diretor importantíssimo da Globo, que me abordou na maquiagem, de uma forma até um tanto estranha, mas assim, fazendo sucesso, hein? Eu falei: "É, pois é". Disse assim: "Mas você não faz bem o personagem." Olha que da que coisa feia, feia, feia. Mas aí você vê o tamanho da pessoa. Aí eu falei: "Pois é, né? Eu faço o que o melhor que eu tô podendo fazer. Eu realmente me esforço. Foi a única coisa que eu disse, mas fiquei magoada. Evidentemente você não diz isso uma jovem atriz, né? Porque por mais que eu tivesse segurança do meu trabalho, você não fala assim na lata, né, para uma pessoa se ele achava realmente isso. Quando a gente voltar para casa hoje, você me conta quem é. É. Emin, e você, aproveitando o que você falou antes, além de de dessa coisa da televisão que você falou, que tinha sua opinião formada, tinha ainda era o galã, né? Ainda era o estereótipo do salvador da mocinha. Pois, você sabe que também era uma outra coisa de eu sou a cabeça de a cabeça do ser humano é complicada, a cabeça do ator é três vezes mais complicada. Nós somos complicados. A gente trabalha com emoção, a gente vive exposto, são feridas abertas para fazer, sobretudo quando a gente vai fazer teatro, né? Porque a gente mergulha mais profundamente. Mas eu sofria muito com essa coisa também, porque eu cresci na minha adolescência, eu me achava, me achava não, eu era meio feinho, sabe? Eu fui uma criança bonitinha, adolescência de aquela espichada, fiquei com uma angulação. Eu eu tenho fotografia, eu falo: "Hum, não era legal". Aí de repente comecei a fazer escravisa recebendo o carta foi carta você é lindo. Seus olhos aí falava que eu tinha olho verde que nunca tive. Seus olhos verdes começaram a fazer um e eu acreditei um pouco nisso, sabe? Comecei a achar legal. Uma pessoa insegura. Comecei a achar legal. Mas quando eu peguei o segundo galanzinho, eu falei: "Não é legal. Não é legal, porque não é isso que eu fiz na escola. Eu quero fazer. E eu vou contar uma história, se vocês quiserem vocês editam, tá bom? Não, porque não tem nada a ver com a escravisaura e nem com um dia eu vou na casa da Janete Claire, levado pela Guta, pela nossa guta, e a Janete me pegou num canto e falou: "Olha, eu vou fazer uma novela em que tem um um personagem que é o vilão. Você tá sendo criado dentro da TV Globo para ser o galã, mas você gostaria de fazer um vilão?" Eu falei, é tudo que eu quero. Só que tem uma coisa, no começo da novela vai ter uma morte e vai ser você que vai matar o personagem. Só que você não pode dizer nem dentro da Globo, nem pros diretores, para ninguém, vai ficar eu e você sabendo. Só nós dois sabemos que quem matará o Salomão Rayala é você. Nem sabia quem era o Salomão Raiala. Aí o Salomo Rael era o Dunis de Azevedo, quando eu comecei a gravar, que tinha sido meu pai na outra novela. Bom, enfim, começamos a gravar. Ah, o o o Diis fez tanto sucesso que o personagem que morrerria no capítulo 5º foi morrer no 332º capítulo e ficou aquela novela inteira. O resto, quem matou Salomonra ela, quem matou Salomão honra ela. Eu já comecei a duvidar que tinha sido eu, porque eu era um ator iniciante. Aí tinha Rubens de Palco, tinha Dinis Fat, Francisco Coco. Eu falei: "Ah, ela vai agora pôr com outro personagem". Aí eu fiquei, um dia eu falei assim, liguei para ela e falei: "Janete, só para eu me posicionar no na minha cabeça, sou eu ou é outro ator?" Eu não falei que é você, é você. Bom, enfim, fui eu. Então, essa mudança de galã para a um vilão foi ótimo. E na outra novela que eu fiz, eu fiz um papel cômico muito engraçado, que eu gostei muito. Chamava Pão, não, chamava sete eh pecado rasgado. Uhum. Foi um, foi um dos papéis que eu mais gostei de ter feito. Ah, muito interessante. Muito legal. E outra coisa também que o Gilberto falou na época de da censura, né? Eu não sei de que forma isso talvez chegasse para vocês ou não, que ele falou que teve que trocar, né, escravo por peça no texto. Ele deu uma uma entrevista falando sobre a censura no texto da escravizaura. Peça, é escravo por peça ele trocou. Será que não foi o contrário? Não, não sei. Não era, era porque peças estão mais ofensivo. É, mas o que ele explicou na entrevista era isso. Mas chegava para vocês alguma forma, alguma da censura? Não, não chegou para mim nada. A gente gravava, querida, você não pode imaginar o que era uma gravação naquela época. É, era infernal. Decorava quantas páginas por dia. Eu também fazia teatro. Eu ia decorar de madrugada. Olha que loucura. Eu fazia teatro no Gláuscio Gil de quarta a domingo. Eu chegava do teatro para decorar para 7:30, 8 horas. já tá acordado para ir paraa televisão que era feita a novela na TV Educativa, porque a Globo tinha pegado fogo, lembra? Uhum. Os estúdios da TV Globo era um cansaço, era dia trás, então não tinha muito tempo para ouvir essas coisas, realmente. É, não, acho que essa entrevista foi depois, mas eu queria saber se na época chegou alguma coisa para vocês de afetar o trabalho de vocês de alguma forma. Não, né? Não, a censura só foi efetiva em corte de coisas eh mais tarde na na minha história com a Globo em Ciranda Cirandinha, que eles cortaram vários episódios inteiros e alguns mutilaram bastante, mas era uma coisa frontal, mas era uma coisa muito mais eh se propunha muito mais a um debate mais eh agressivo em relação à ditadura militar. tinha jovens drogados, falava de droga, sexo, vida eh comunitária, coisas assim que não não queriam, não podiam ser discutidas, diferente da escravizaura, né, que era um romance. Uhum. Sim. E e Lucélio, eu vejo que alguns atores, né, eh às vezes ficam fugindo de personagens que marcaram a vida deles, assim, né, querem mudar, não serem tão lembrados por certos personagens. Me parece que não é o seu caso assim, né, da escravizaura, é um orgulho que você carrega. É, porque é realmente uma coisa excepcional, né? Eh, eh, ela existe independente de mim. Uhum. Né? Eu na época eu já dei uma guinada em seguida, que eu fui fazer uma novela em que eu quebrei o padrão da mocinha, fiz uma vilã em seguida. assim, não me encham com isso, vou fazer o que eu quiser. Depois, eh, continuei uma carreira enorme com várias heroínas, mas a escrava esaura é excepcional, não só do ponto de vista nacional, mas do ponto de vista internacional. É uma coisa que ninguém mais conseguiu construir nada. Eh, tão abrangente. É porque como o Edvin falou, ela pega qualquer cultura que você submeter a a história, a novela, do jeitinho como ela é, ela funciona. É uma coisa impressionante. O único país, queria até perguntar quantos países tem no planeta, porque é muito mais do que esse número que vocês eh enunciam. É muito mais que isso. A novela passou no mundo inteiro, menos na Índia. É. São dados da própria Globo mais. Pois é, mas é vê quantos países tem no mundo. Passou em todos os lugares. São 170 e poucos, né, países tem. É, passou na grande maioria, não passou na Índia, porque na Índia não entra nada que é estrangeiro, porque eles são os maiores produtores de audiovisual do mundo. Eles produzem mais cinema que Hollywood, eles produzem tudo que você possa imaginar. E tem a questão cultural de valores, as coisas de sexo, beijo, mulher, eles são muito muçulmanos, é um país muçulmano, basicamente. E aí, eh, a censura lá é muito muito séria também. Mas por isso a novela não entrou lá, por uma questão de mercado. Mas tirando a Índia, eu acho que todos os grandes países e todos os continentes mostraram essa novela. Então é, é, tem que se tratar com muita muita reverência. Você sabe que eh falando isso que ela tá falando, ah, alguns anos depois que eu já tinha feito, deve ter acontecido com ela também, claro. Não só com ela, nem só comigo, deve ter acontecido com com Rubens. A gente viajava para alguns países, é que hoje a gente tá muito mais velho, mudamos, né? Mas durante uns 10 anos, se eu fosse à Itália, se eu fosse paraa França, sempre tinha gente que reconhecia a gente da novela passada em horários meio estranhos. A França não é um país que vê muita televisão, não faz parte do cotidiano deles, mas passava de tarde, um horário meio segundo. Como era o nome da televisão que passava? Eu não vou lembrar. Eu sei que reconheciam a gente como como se a gente tivesse no Brasil. Era gostoso porque não tinha aquele assédio, mas sempre tinha alguém que podia nos ajudar num problema, né? Como turista sempre, tá? Onde é tua praça tal, onde é isso? Como é que troca isso? Aí ajudavam a gente. Uhum. E é de eh depois com as reprises e tal, você você revu assim, hoje você olha e pensa: "Ah, eu eu tava sendo muito crítico comigo mesmo à tua assim. Muito isso. Eu falo assim, eu fazia muito bem. Hoje eu tenho distanciamento. Foi a terapia. Hã, foi a terapia. Eu nunca fiz terapia. Minha terapia não, não. Todas as novelas que eu vi depois com distanciamento, eu falava assim: "Gente, eu eu fazia legal esse personagem porque eu cresci na minha cabeça. Eu cresci porque me falavam muito, você é um ótimo ator de teatro. Sempre tinha um de teatro como um apêndice para me elogiar como ator. Você é um excelente ator de teatro." E aí eu falava assim, quando fazem isso é porque eu não sou bom na televisão. E talvez eu não seja mesmo tão bom. Eu falava depois eu falei isso. É que na televisão eu não sou tão bom quanto eu sou no teatro. No teatro realmente sou, você que me conhece como ator de teatro, eu sou grandioso, eu preencho, eu tenho, eu sei fazer teatro. Televisão eu sempre fico um pouco, tenho, eu tenho uma, uma insegurança, mas sabe do que que é? é do texto. O texto nunca está colado 100% na minha cabeça ou na cabeça de qualquer ator. Tem ator que sabe lidar melhor com esse esses 80% e esses 20 que ficam boiando. Eu não, se eu não sei muito de cor, eu fico muito mal. Então eu nunca sei total. Não sei. Não, não dá. Ainda mais agora que eu tô mais velho, mais dificuldade para decorar, então fica mais difícil. Então eu tinha isso. Eu tava assim olhando para você para fazer aí. Fala que eu vou falar agora? Que que eu tenho que falar agora? Meu Deus do céu, se ela não me der desse, eu vou vou parar a gravação. Não dá para ficar perfeito, né? Com pensamento paralelo. Mas já lidei também bem com isso. E você, Lucélia, se rever depois de muitos anos? Segura. Ela é segura. É, ela falou, né, que elas já fazendo, você era muito segura, né? Você você gostou do que você fez ali já de cara assim? Você tava muito nem parei. Eu não sei se eu gostei, se eu não gostei. Eu tô, ela não tá fazendo charme não. Ela é assim mesmo, viu? Eu nem reparei. Eu não, eu eu faço, eu, aliás, acho que eu sempre fui budista. Eu sempre procuro viver o momento presente. Eu estou fazendo. Quando eu estou fazendo, eu estou fazendo o melhor que eu posso. Estou presente. Se ficou bom, se não ficou bom, é uma análise que já não tem mais, entende? É muito subjetivo. Você pode gostar, ele pode não gostar. Aí você vai comentar, ele vai comentar e vira fofoca. Eu não quero saber, eu quero saber o que é para fazer. Uhum. E você lembra assim de uma de alguma cena da novela, algum momento assim que foi para você foi o melhor, o mais especial assim que foi não foi ao ar. Mentira. Qual foi? Qual a melhor cena que eu fiz na novela? Nunca foi ao ar porque ela não combinava com a linha da passividade e da doçura e da eh da da ela era resignada. da personagem foi quando matavam o Tobias, que é o Pirilo, que ela tinha uma cena de revolta muito forte, que ela quebrava o quarto inteiro. E eu fiz muito bem. Essa cena foi a minha melhor cena na novela. eu fiz era realmente de de parar o estúdio foi muito forte e eles acharam que não podiam botar no ar porque ia ser muito forte pro público a aquela violência, aquela aquele grito de de rebeldia, de rebeldia. Não podia, ela não podia ser rebelde. Acho que rompia com até uma linguagem da própria personagem. Ela tinha que ser submissa, humilhada até o final. Eles achavam que isso engrandecia, que isso fortaleceria. Deve ter sido de fato. Era um personagem manique, heroína, né? Eu não podia gritar. Era bom, o mal era mal. É. Não podia quebrar nada, não podia gritar, não podia me rebelar, não podia falar alto, tinha que olhar pro chão. A Esaura não olhava assim, ela olhava para baixo. Era muito forte a personagem e é muito difícil para mim ter uma natureza mais expandida. Uhum. Era difícil fazer a personagem completamente humilhada, olhar para baixo, baixar o tom, era muito camisa de força, sabe? Aí a personagem, imagina eu que sou um vulcão, eu ficava bem cabendo dentro desse e espartilhou. E como foi que você soube que não ia ao ar? Você soube antes, você viu na hora que não foi? Então alguém me falou na época que de Aar, eu acho que eu estranhei. Ué, mas e a cena? Eu tava esperando a cena. Aí disseram: "Ah, decidiu se não se nem tem essa cena". Eu tenho. Aí me mandaram de presente. Mas eu tinha até pouco tempo um sistema, um sistema que ninguém mais lê. Acho que nem a própria Globo. Era uma fita desse tamanho. Era um negócio enorme, tipo o celular tijolo. Imagina. Naquela época o a matriz era muito diferente e eu tinha até durante muito tempo eu tinha, não sei que fim levou, mas eu tinha essa cena. Que legal. A cena que não foi ao ar. Não foi ao E a sua, Edvin? Teve um momento assim que você achou que foi uma memória muito ruim, sabe? Eu guardo tudo. Só sou bom para guardar texto. Quer dizer, mesmo assim fica aqueles 20%. Eu não tenho grandes memórias porque faz muitos anos. Eu lembro assim da contratação, eu lembro esse dia que eu fui, que eu conheci a Lucélia, eu lembro de algumas cenas assim. Agora tem uma que a gente, a gente sempre que vai dar entrevista que eu me lembro, porque nós éramos muito jovens, muito inexperientes, levávamos tudo muito a sério, né? Os personagens são, a gente levava muito a sério. Hoje a gente já tem algumas chaves que fala gravando, você já você já sabe fazer no teatro. Eu não preciso ficar no teatro me martelando lá na na cuchia para entrar e fazer uma cena. Já tem um, né, umas chaves que faz você ir. Então a gente era muito, uma palavra horrorosa, mas muito embuídos dos personagens. E eu de repente na novela, eu era apaixonado por ela, apaixonado. E ela rejeitando, não querendo. Ela tinha um amor antigo, tinha medo, aquela coisa toda. Um dia ela resolve achar que ela me ama. Não era bem assim, não. Claro. Mas um dia, um dia teve a grande cena romântica. É isso. Teve um dia que ela, o beijo olhou para mim e veio o tal be. Quando eu li o beijo, eles dão um beijo. Eu fiquei no estado. Tinha um monte de gente esperando esse beijo. Muita gente comentou comigo que tava esperando aquele beijo. É, todo mundo só pensava nisso, né? O dia que eles vão, que ela vai falar e ele ela gosta dele, né? Aí a gente foi fazer a cena do beijo. Aí tá um aqui aqui aquele olhar um pro outro de repente gruda. Mas a gente foi com tanta força que quicou. Fe assim, ó. Quase que quebrou meu dedo. É os dentes tudo dolorido. Fazendo a cena, o resto da cena tudo dolorido. Eu não sabia que o dela também tava doendo, mas o meu tava, né? Tava doendo. Aí quando terminou a gente tava muito emocionado, né? jovens bonhos. Aí a gente conversou e a gente riu muito do A vida inteira a gente riu. Quicou, quicou, quicou, quicou. Mas você sabe que foi com tanta fúria, com tantoor. Você sabe que eu tem uma outra cena na novela que eu achava muito bonita e foi uma cena também que quebrou o padrão da rotina da Isaura, que era uma cena poética que tinha ao ar livre, era numa locação aqui próximo ao Rio de Janeiro que ela falava uma espécie de um poema. Era uma coisa meio falada, meio cantada, meio poema que ela que que eu pela que eu eu pedi pro pro o o Herval. Será que o Herval ainda tava? Eu não lembro se o Evalida tava, mas eu pedi pro diretor deixar eu fazer descalça, porque já era a última cena do dia, a luz estava caindo e era uma coisa que ele pediu para fazer como uma complementação que eu fazia cena e depois ela ficava sozinha meio que falando com ela mesma. Foi improvisado, era uma coisa improvisada. Eu tava falando comigo mesma meio cantando, meio brincando. Eu tava brincando. A Iaura tava brincando e eu entendi o que ele queria. Não era um texto. E aí eu fiz, eu fiz improvisado e eu fiz uma coisa muito bonita. Era o único momento que tinha de relaxamento dela, que eu fiquei como uma criança, brincando sozinha. Me lembro a minha neta, eu rodava com a saia assim e eu fiz descalça. A cena ficou tão linda. Mas essa foi pro ar. Foi essa, foi pro A e essa foi uma cena muito elogiada e foi uma cena que ela era boa, exatamente porque ela quebrava aquela rigidez da personagem, do dia a dia, de olhar para baixo, de estar sempre muito sofrendo muito, como sofria, né? Uhum. Nesse momento ela ficou feliz, ela tava feliz. Que bom. Eh, deixa eu falar uma coisinha. Ah, eu eu antes de ser ator eu tinha sido atleta, hum, atleta olímpico mesmo, de competição, tudo. Quando eu fui contratado, falaram para mim assim: "Você sabe andar cavalo?" Hã? Não sabia. Eu falei: "Sei, queria ser contratado, queria trabalhar, né?" A primeira cena que eu tinha de cavalo era uma era uma uma fuga, uma fuga. Aí eu via, antes de eu gravar, eu via as pessoas andando e eu falava assim: "O pé é assim, a mão é assada, eu esquadrinhei tudo e fiz e andei andei muito bem a cavalo. Andei bem mesmo e passei a ficar apaixonado para andar cavalo. Mas teve uma cena muito engraçada que agora que eu lembrei, eu tinha uma cena com Aricoslov na porta da tua casa, daquela casinha que você morava com o teu pai, fugida, fugida. Aquela casinha era eu, eu e ele conversando lá. Aí a gente conversava, conversava, conversava. O texto era tudo pomposo, né? Era um texto elaborado. E naquela época não tinha kill. Sabe o que é kill? O corte, né? Não tinha, errava, tinha que voltar tudo de novo. Aí fizer uma cena difícil, porque o cavalo, o nós dois em cavalo, o cavalo ah, virava e sozinho, não dava para falar texto, você tinha ficar controlando o cavalo, então virava e aí pegava outro ângulo e tudo assim, muita dificuldade. O diretor gostando, aí quando termina ele fala: "Então tá combinado". Eu fiz assim, combinado. Quando eu fiz isso aqui, teve que voltar tudo de novo. Combinado, maravilhoso. Voltou tudo. Essas coisas, essas coisas dão um tempero muito gostoso pra gente. Esses erros são maravilhosos. Coisas que acontecem no dia a dia de gravação, combinado. Aleg, a alegria do diretor foi e Lucéria, imagina você responde essa pergunta já há anos, né, de e aí vai voltar as novelas, né? Acho que todo mundo pergunta sempre isso. Se me convidam, eu volto. É isso que eu queria saber. Óbvio, Lulante, não faço porque não sou convidada, porque se me convidam eu faço. Adoro. Entendi. Porque tem uma uma galera que uma época já também não tá tão disposto a fazer novela. uma coisa que nós perguntar também, ia te perguntar também da sua, é, não, o que é o que é impressionante, ah, enfim, é assim que é e é e a gente também não tem muito o que fazer, mas a pessoa mais gentil, delicada e que olhou para nós com o carinho dessas duas pessoas que pararam o Brasil, pararam o mundo, foi Portugal, que fez uma novela há pouco tempo, onde a gente fez um um casal totalmente diverso, um casal brasileiro. Escritor brasileiro. Escritor brasileirema. É na corda no Brasilamba. No Brasil nunca teve alguém que se debruçou e falou assim: "Foi um casal importante. Posso até não curti-los, mas foram importantes. Vamos colocar em algum momento essas duas pessoas juntas". Mas eu não vejo assim não. Eu acho que a televisão mudou muito. A televisão que que vai ao ar hoje não é que nós fizemos. O mundo mudou muito, as novelas mudaram, o sistema de comunicação mudou radicalmente. Hoje em dia, desde da das redes sociais, a internet, os o smartphones, a não há mais possibilidade de uma audiência tão concentrada como a que nós tivemos na nossa carreira. Tu imagina uma novela com 70 pontos de audiência, 75, 80 pontos de audiência que uma novela dava no último capítulo, nossas novelas. Eu me lembro a aquela novela Locomotivas, meu encontro com acibalabani deu e quase 80 pontos de audiência. Isso não existe mais na realidade da do veículo. Hoje tá tudo fragmentado, as as audiências são perfeitamente divididas, é um negócio diferente. Eu tô falando isso porque a própria maneira de construir uma narrativa de história hoje é outra. Respondendo a sua pergunta, eu não sei se eu hoje, se assim, me convidou para fazer uma novela, eu sei fazer essa novela. Eu eu eu me pergunto muito isso também. Eu não sei se eu sei fazer essa novela que tão fazendo agora. Eu eu me pergunto muito isso assim, será que eu me adaptaria? Porque é outra linguagem, é uma linguagem que acompanha muito mais a sociedade, é uma linguagem de fragmentação. E a gente veio de uma linguagem que os personagens tinham uma integridade. Eh, era difícil romper a integridade de um personagem como Isaura. ou de várias outras que eu fiz ao longo da minha da minha carreira. Eu fico pensando por que que essas novelas faziam tanto sucesso? Até hoje eu vejo até uma outra geração de fãs que me vê agora na internet e que reconhece valor naquele trabalho, adoram. Mas o que que é? Não sou eu, é o personagem que é bem construído. Não, não tem mérito nenhum eu com atriz. Posso até ter de ter lá um carisma, alguma coisa, mas o que faz alguém seguir a história de alguém é o personagem, é a construção dramática desse personagem. E é isso que eu acho que falta hoje a televisão. Não é que as novelas não não possam ter uma audiência explosiva. Podem, mas para isso tem que ter por trás alguém construindo isso, que os autores faziam isso magnífica magistralmente. E hoje eu não acho que eles não façam porque não queiram fazer. É que a linguagem eh rompe com eles. Entende o que eu tô falando? Totalmente. Excelente reflexão. Dá para entender, mas ao mesmo tempo, Lucio, eu acho que nós somos adaptáveis. A gente pode continuar trabalhando. Pode ser que você não tenha, não dê o fogo para fazer. É, não é porque eu sou atriz, é claro. Eu posso fazer uma personagem se eu tiver um personagem para fazer. Uhum. Né? É claro. É, essa é teve agora a experiência, né? Com família. Tudo foi uma participação. Foi uma participação. É, mas tinha personagem. Hã, tinha personagem. O Não é esse o ponto. É esse o ponto. Não, como foi um convite no meio de uma novela, né, para terminar com Arlet Sales, tudo, a gente tava em teatro juntos. Ah, mas me falaram uma série de coisas que quando veio escrito não era bem, não dava, porque é claro, as histórias estavam todas já desenhadas, né? Fui lá para para que Arlet tivesse um um galanzão, né, um homem da maduro para fazer par com ela. Então era, mas foi ótimo. Adorei ter feito. Adorei mesmo, porque fazia tanto tempo que fazia 5 anos. A última que eu tinha feito foi com ela lá em Portugal. Lá Portugal na Guarda Boba. Qual novela que você fez agora? Agora a família é tudo. Ag. Arlete fazia duas gêmeas. Eu terminei com uma delas. Ah, que legal. É, era um convite de honra. É um convite afetivo. Foi bom, foi bom ter feito. Mas daí na sua opinião, eh eh nesse ponto que a Luciéria tocou, você falou: "Você vocês acham que vocês você acha que vocês são adaptáveis, né? Essa eu acho, eu acho que a gente eu não sei, sinceramente. Eu não sei. Eu me pergunto sempre isso. Não sei se eu quero também eh não sei se eu me adapto a essa. É, isso é mais difícil. Você sabe que a a essa novela que eu fiz na TV, na TV, na Globo agora com família tudo, eu fazia muito tempo que não ia lá, né? Porque 5 anos a última e foi lá, não foi na na Globo, foi em Portugal. A gente vem de uma geração, é chato falar isso que parece que a gente é velho, antigo, mas nós fazíamos televisão numa época, fazia uma uma televisão numa época em que a Globo era uma família. Era uma família. É verdade. Você trabalhava num num espaço onde tinha um corredor muito grande com três estúdios, com cada estúdio era uma novela. A sala de maquiagem para todos. É, então a gente tava sempre com todos os elencos e todo mundo conversando, trocando experiência, tal e coisa. Hoje quando eu entrei na, eu nem vou falar, não é, não é mal, é outra época, como ela descreveu tão bem, mudou tudo, mudou, mudou tudo, não tem como. Eu fui gravar essa, essa novela, tem uma sala de espera de de ator, uma sala de ator que é maior que isto aqui e tem todos os atores de todas as novelas, todos com celular na mão e todos voltados para si mesmos. Não tem diálogo, não tem papo, não tem absolutamente nada. O camarinho é desse tamanho e a sala é imensa. Aí eu fiquei tão assustado com aquilo, eu falei: "Gente, eu quero conversar, mas isso mas isso aí não é uma uma questão do ambiente de trabalho, é a humanidade. Você entra no metrô, você entra em qualquer lugar, em qualquer lugar, num jantar. V jantar, as pessoas estão olhando o celular, você fica lá sentado. Ei, não vai falar comigo não. Oi, tô aqui. É, mas isso é são tempos. Tempos. Mas pra gente que veio de outra que você fazendo, olhando e falou assim: "Gente, não é que você queira voltar no tempo, eu não sou saudosista mesmo, não vivo pro passado, eu vivo realmente pro futuro." Mas me impactou aquela aquela frieza. Aham. Ao mesmo tempo você vê a humanidade por trás de cada um quando você bate um papo. Mas claro, mudou tudo, mudou. Então eu também não sei se como é que eu seria fazer 8ito meses de uma novela. Se me convidasse para fazer um uma minisérie trs meses, eu acho que seria mais fácil hoje. Ó, pessoal, amei tá aqui com vocês. Eh, Edvin, lembrou ano que vem, 50 anos, né, de escraviza aura. Quem sabe, né, a gente não se reencontra aí para falar. Eu tava falando para ela assim, quando a gente tiver 100 anos, a gente vai tá falando da trra vez aura. Vai, exatamente. Tomara que não, né? Obrigada pessoal. Obada. Tá. OK. Um abraço a todos. [Música]
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