fbpx

Fernanda Torres e o turbilhão de ‘Ainda Estou Aqui’

Fernanda Torres e o turbilhão de ‘Ainda Estou Aqui’

que bom te ver vamos nós Pois é deu certo e vem cá Exausta né minha filha eu no início assim quando começou quando eu fui pra Veneza eu fiquei meio apavorada com que havia assim mas depois você entra no ritmo e é uma loucura cara uma loucura porque você tem que meio fazer o filme ser visto em três continentes e se possível na Ásia e a presença física faz diferença então eu o celton e e o Walter a gente tem se eh Se revado mas o momento Nova York hamptons dorme no no aeroporto Londres São Paulo Rio em por 15 dias TRS dias cada lugar foi o negócio e aí a gente fez eh São Paulo Rio peguei o avião e vim para Los Angeles Jet leg agora eu vou ficar aqui tipo 25 dias aí é melhor E aí é nessa missão né que você falou porque às vezes a gente fala ah tô fazendo a campanha do do do filme eh aí parece t o quê uma jogada de marketing distribuindo brinde Não é nada disso né consiste em fazer despertar nas pessoas o desejo de assistir o filme não é isso E aí esse consiste em fazer eh eh sessões com filme para pessoas estratégicas então o filme começa a entrar em festivais o nosso filme foi entrando em muitos festivais importantes o de Nova York o de Londres eh o de Toronto já tava o de Veneza certamente Eh aí a mostra de cinema de São Paulo que a gente ganhou o prêmio de público aí o Rio de Janeiro tinha amra e agora a gente veio pro AFI Aí tinha um um festival de cinema brasileiro muito legal foi ontem na academia Eh agora a gente tem sessões para caa você vai tendo que fazer sessões pro para alimentar o buz do filme é cara parece campanha política assim é uma coisa de tá presente e Cada sessão você apresenta eles vem o filme e depois tem um q&a então Eh eu e o celton e Walter a gente tá um trio impressionante azeitado né E essa coisa da trajetória dos festivais é importante porque tem votantes do Óscar em todos os lugares do mundo bem diferente do que era antigamente né é o Óscar mudou muito hoje em dia tem o Walter por exemplo tá indo agora PR Europa fazer várias cidades porque tem votantes do Oscar em todo lugar e não tem só o Oscar é uma ceson assim de Prêmios tem Golden Globe tem bafta tem é tudo meio nesse período que vai do fim do ano até Março até Fevereiro e aí então a gente foi tendo críticas boas então vai começando um buz do filme ao mesmo tempo o nosso filme é um filme em português eh o a realidade do cinema mudou muito o cinema tá enfrentando uma questão de Box Office né porque depois da pandemia todo mundo comprou televisões de 800 polegadas sei lá gig com eh 5.1 então pro cara ir ao cinema então hoje a a perspectiva de um filme estrangeiro fazer Box Office é muito menor então o lugar de você existir é nos festivais pro teu filme ser lançado com força nos cinemas sim é um é uma uma coisa estratégica complicadíssima assim bom seu nome foi ventilado para se odet hutman E aí disseram que você não teria aceitado o convite justamente por para se dedicar a essa trajetória do filme Isso é verdade houve esse convite e houve esse motivo não houve assim lá atrás aí foi indo e quando aí primeiro eu fui vendo que o filme tava crescendo aí eu liguei e falei cara Acho que não vai dar porque eu teria que tá dezembro eh começando e E aí falaram Não talvez dê para segurar para Márcio só que aí depois de Veneza com o resultado de Veneza a onda cresceu muito e e é muito cansativo porque é em vários países e não dava para eu começar um trabalho dessa responsa eh já cansada você não pode começar cansada e Mas isso é natural é isso eu não era a primeira opção do Walter pro pro ainda estou aqui essas coisas são eh normais no trabalho da gente eh é de quem faz assim no fim isso é normal sim e a eh bom você pode est Exausta Mas você tá gata para caramba e tem essa coisa das pessoas falarem dos seus figurinos você é lindo um atrás do outro é você que escolhe querida só pensa em L o meu trabalho virou maquiagem cabelo e look muito bom eu Pangaré de secretário Diego quem diria o Pangaré de secretário e E aí eu tenho o Ant frajado lá no início assim isso já em contrato eu falei se tiver Red carpet porque hoje em dia é impossível você fazer isso sozinho e aí entrou a Alexia também eh com contatos e aí as marcas vão vindo fiquei felicíssima de fazer com er kovit Veneza que é um cara que eu admiro muito Reinaldo Lourenço foram as primeiras pessoas que eu procurei porque são referências para mim no Brasil e E aí vai indo mas é uma loucura porque é muito screening muito Red carpet e você fica tendo que escolher a desgraça do [Risadas] Luk e bom você eh ainda nessas nesse rolé todo aí Você aguenta ainda as pessoas perguntar ah e o Oscar E aí vai vingar sua mãe pergunta que você não aguenta mais ouvir não eu acho natural acho bonito assim porque eu acho que o o o ainda estou aqui despertou de novo nas pessoas um certo orgulho Nacional né porque o Brasil ele vive um pouco eu acho do Amor e Ódio ao cinema brasileiro são ondas de amor incondicional e de e de desprezo e eu acho que eu ainda estou aqui com muitos filmes maravilhosos que a gente tem feito Karim e kéber assim super na ponta presentes nos festivais o kéber tava no juro de Veneza o Karim com filmes Inc Cléber a gente gente premiada e eu ainda estou aqui o Walter ele tem isso ele é um ele é um cineasta eh do mundo mesmo e aí ele veio com um filme muito pessoal dele é um filme maduro é um filme lindo que o Walter fez eh e aí eu acho que isso despertou nas pessoas a questão do o orgulho nacional e realmente Nós entramos na shortlist citados eh no variety citados na hollywood report no deadline todo mundo cita a gente como Apostando em possibilidade que pode vir ou não então é natural que se crie isso é legal eu só tento explicar pras pessoas o tamanho do filme esse ano por exemplo pra atriz tem performances extraordinárias eu tive a chance de ver alguns filmes a tilda swinton maravilhosa no amod Marian Jean batiste no filme do Mike Lee é assombrosa eu não vi Angelina ainda Eid a nora a nora nem Nicole a nora Eu também não vi dizem que a menina arrebenta tem a s renon que dizem que tá incrível também não vi então o o de atriz tá engarrafado assim e E é claro que é um filme em português eh que sempre é mais difícil das pessoas verem dos votantes verem que é o que a gente tá fazendo se vai vir ou não eu não sei sim mas você tratou de baixar a expectativa das pessoas ali também né de explicar um pouco o que é isso e também com relação à mamãe de explicar que só ela falando português está entre as nomeadas É é incrível entendeu É porque é uma indústria muito grande de gente que fala inglês a gente entrar numa dessa falando português é uma coisa muito incrível já é furar uma bolha muito grande e que é mais isso assim de explicar entendeu porque a pior coisa que tem eu acho é aquilo que eu falei é a virar uma decepção um filme como esse que é deslumbrante assim e que já tá ocupando espaços no mundo importantes Sim mas você também todo mundo que assiste fica emocionado as plateias mais diferentes sabe em várias nacionalidades a resposta ao filme é uma espécie de comoção como se as pessoas sentissem nesse filme algo que não costumam sentir em cinema eh pela pela forma honesta que o Walter fez a história da eonice muito guiado por quem era o eonice sabe a gente não quis fazer um melodrama com a vida da eonice e ele conseguiu então só isso é muito impressionante a reação das plateias com esse filme só pra gente fechar a gente já vai entrar no filme mas essa história do Oscar a gente conversou né No ano passado e você me falou Maria eu sou uma pessimista profissional achar que tudo vai dar certo é um passo para dar errado Eh né foi é com esse espírito também que você nessa coisa das indicações não de esperar sempre lógico claro o não é certo é com ele que eu lido porque senão depois um filme maravilhoso que você faz vira uma uma decepção isso eu me recuso sabe e e prêmio é uma questão São Tantas Coisas que que envolvem uma premiação às vezes ela é justa às vezes ela não é mas isso não tira para mim ter feito esse filme eh é um divisor de águas na vida eu sou uma atriz diferente depois de ter feito a eice de ter experimentado os sentimentos que eu experimentei na eice de voltar a trabalhar com Valter de eh trabalhar num registro que há muito tempo eu não vinha trabalhando como atriz e dar conta dele então não quero que isso tudo termine ah perdeu não pode entendeu então eu eu trabalho sinceramente por isso Fernanda eu assisti assim o filme paralisada completamente na cadeira assim sem respirar né tensa E aí eu queria saber uma coisa porque assim eu levei meu pai né e meu pai foi preso na ditadura né então assim sim na mesma época na mesma época que estavam matando o Rubens Paiva perfeito tava lá com o pessoal do Pasquim rezando e o caitano ex dividiu a cela Com caetano né num quartel como aquele mas não era naquele eh e graças a Deus ele não foi torturado mas eu perguntei para ele no final pai que que você tá sentindo ele falou um gatilho do terror e do Pânico igual e como a gente precisa falar disso então eu queria saber o filme ainda não estreou no Brasil mas houve uma série de pré-estreias você tão vocês estão fazendo outras sessões também ouve dizer que apresentaram a al Gabeira também E aí queria saber como é que tá sendo esse feedback de pessoas que sentiram na pele esse horror que foi a ditadura militar no Brasil é isso que eu acho que é ó o alarme isso que eu acho que é diferente nesse filme como ele não é um filme sobre a luta armada eh e tem filmes maravilhosos que nós fizemos sobre as pessoas envolvidas diretamente na luta armada Mariguela larca O que é ex companheiro esse filme é sobre uma família e é sobre uma mulher que totalmente desavisada que e e e e aquilo Eles não eram uma família de eh guerrilheiros com querendo que o o Brasil virasse Cuba não eles eram o país democrático Progressista democrático eh e como de repente ela eh sofre uma violência de Estado então o fato de ser sobre uma mulher e uma mãe de família a questão da mãe de família e de uma família que como o Walter apresenta qualquer um você tá à direita ou à esquerda Você concorda que aquela família não não tá fazendo mal a ninguém e de como é que de repente aquela família vira inimiga número um do Estado a ponto de torturar e matarem aquele pai de família então o fato do filme pela questão da família eh cria uma empatia eh diferente eu acho eh e que e e e cria um um lugar de discussão sobre o que que é um estado autoritário eh que ele pode atingir qualquer um eh mesmo quem quem no fundo não tá fazendo nada quem preza por valores Democráticos isso e que eu acho que eh que é novo assim e que cria uma empatia muito grande com a eice e com essa família com essa mãe de família e se fosse você com cinco filhos como é que você explicaria que o estado torturou e matou o pai dessas crianças como é que você na posição dessa mulher ela se cala você conseguiria contar pros seus filhos O que o estado fez com o seu marido com o pai deles então isso cria uma empatia diferente e uma uma nova forma de discutir o estado autoritário Eu acho você acha que tem chance de furar a bolha e chegar nas pessoas que não não fazem ideia do que foi a ditadura ou naquelas mesmas que defendem a volta da ditadura eu acho que sim eu acho que sim justamente muito guiado pelo que é oice Paiva da maneira como ela fez a a luta dela el ela eh eu acho que sim eu acho que é capaz porque eu acho que qualquer um senta ali e concorda que aquela família eh e e o filme explica bem isso eh sobre ele quer dizer porque o o Estado autoritário pode dizer mas eh Por que que ele tava entregando cartas eh e aí o o personagem do Dan Tubal explica muito bem ele fala porque é uma rede de amigos que que não tem como você não ajudar porque existe uma diferença de um de uma Guerrilha eh que mata talvez por uma causa ou por uma crença e o filme me fez entender que o movimento estudantil eram pessoas muito jovens e despreparadas que entraram nesse movimento Então existe uma diferença entre esse despreparo dessas pessoas e um estado autoritário que oficialmente cria uma máquina de terror isso não dá isso isso é um estado ciano que nenhum de nós gostaria de viver nem mesmo o jovem que não se lembra do que foi a ditadura e que hoje acha que um pouco de estado autoritário talvez resolva o problema Não tô falando que isso falou né sobre os jovens que que essa essa reflexão que você disse né jovem na ditadura tenho certeza que os jovens não gostariam de viver no país onde eu vivi e tem aquela cena da veroca né a filha mais velha parada numa Blitz com arma na cabeça sendo comparada a fotos de jovens em cartaz de procurar ali né podia ser você ali né podia ser qualquer Ah eu a minha adolescência inteira eu tive em carros como aquele e a gente sempre teve medo de ser parado pela polícia havia e e os estudantes brancos eles eram eh Alvo na época agora isso aice entendeu Essa violência de estado ela com a maturidade dela e depois se formar em advocacia ela entendeu que o que havia acontecido com ela com ela não era diferente do que acontece toda todo dia eh nas periferias com os indígenas a eonice é uma mulher muito inteligente ela fez essa ponte e de entender que o que havia acontecido com ela é o que acontece todo dia num estado de polícia truculenta como a gente se acostumou a ter no Brasil mesmo depois do fim da ditadura Eh agora a gente também precisa entender end o porqu que isso aconteceu um jovem que não lembra do que foi a ditadura ele cresceu numa democracia então ele não cresceu num país fechado como eu fechei como eu cresci eh era uma Albânia você não podia sair do país o Brasil não tinha comunicação com o mundo externo ele é um jovem que já cresceu num país democrático Ele acha que isso é o normal Eu sei que não é isso foi conquistado e ao mesmo tempo os anos de democracia não resolveram o nosso problema de segurança o nosso problema de miséria o nosso problema de educação pública de de hospital pelo contrário isso piorou no Brasil então também eh Essa é a razão que um jovem olha e fala o problema só pode ser então talvez a democracia de mas ele não tem ideia que ser a democracia é pior ainda eh mas também é preciso entender isso que mesmo com a democracia nós avançamos em muitas coisas eh eu vivi depois da ditadura militar num país falido economicamente foi através da Democracia que a gente criou o real que mais tarde a gente fez uma distribuição de renda melhor só que a gente não Av sou em muitas pautas e e isso eu acho criou Essa ilusão de que talvez o que a gente precisa seja de um estado autoritário para dar ordem no galinheiro com um pouco de Economia Liberal isso eu acho que é um pouco a crença hoje de quem é saudoso de um regime militar sim e talvez seja também porque se a gente também não entender o que que essas pessoas porque essa crença vira uma coisa de que são loucos de que são e Há uma razão para isso e que é preciso entender e discutir eu acho que o filme consegue em mostrando aquela família que é uma família que não é uma família de radicais é uma família de Democratas progressistas que que um estado autoritário não é bom para ninguém sim talvez seja uma das mais das Missões mais bonitas desse filme seja fazer essa conexão aí derrubar esse esse obstáculo agora você tava na comédia Fazia um tempo você foi escrever livros e tal Walter ses te fez reconectar com o drama né Fernanda te trouxe de volta esse lugar né é engraçado eu fico pensando e eu fiz muitos filmes assim Acho que o último grande filme assim que eu fiz foi o casa de areia pois o que é natural o Brasil começou e é natural isso assim bacana veio toda a onda do do eh dos filmes sociais onde havia menos espaço pro eu sempre digo isso o Brasil costuma fazer comédia da sua classe média e drama das suas Claro porque que drama um alguém da classe média pode ter diante da desigualdade social do Brasil o Real drama do Brasil não tá na classe média então Eh foi uma hora engraçada porque a classe média ocupou as comédias de um jeito muito forte e o drama social eh ocupou o outro lado do o drama foi ocupado pelo drama social e E aí demorou muito tempo e aí eu fui fazer televisão amo a Vani amo a Fátima acho duas invenções extraordinárias assim eh e fui meio o meu lado drama eu fui praticar na escrita eh foi aonde esse lado outro do ser humano eu fui trabalhar e aí o o Walter Descobriu um filme pessoal dele também eh sobre um drama de uma classe de uma elite Talvez Mas que merecia a pena ser contado eh então também o filme fura essa bolha nesse sentido é um drama de uma classe média alta mas que é um drama real do Brasil Então eu acho que a unici Paiva também faz essa ponte entendeu de que eh Nós também temos um drama você vê que argentino não tem esse problema né os filmes argentinos eh eles filmam a classe média com os dramas de classe média mas no Brasil um drama de classe média é um drama um pouco rastaquera né perto do drama de milhões de brasileiros que não t saneamento básico né isso Digamos que são problemas mais burgueses né você você você falou que saiu que que sai transformada desse filme de que maneira é porque o Walter é um diretor impressionista sabe eh você poderia filmar o o caso da eonice com códigos de atuação que a gente conhece que funcionam e são bons mas ela não permitiu isso a gente então eice é uma mulher tão especial que não cabia Onice a cena do Choro a cena da Revolta cena então é um filme que não te empurra com música não te empurra com planos o o o Walter eu olho para ele e falo Valter você desapareceu no filme eh ele ele tentou porque essa casa tava na memória dele que nós fôssemos honestos e realistas não é realista é impressionista é uma é uma impressão de memória que ele tinha isso trouxe atuação uma espécie de contenção que era o que eu iní tinha que eu nunca tinha trabalhado dessa maneira e quando você contém a emoção ela explode de uma maneira honesta diferente dos códigos de atuação que normalmente você trabalha e isso foi uma coisa que eu nunca tinha experimentado assim esse nível de Realismo assim de honestidade numa numa atuação e de contenção isso eh fez emergir assim sutilezas na tuação que eu nunca tinha trabalhado e muito pela mão do Walter muito pela sensibilidade cineasta dele é a gente a gente percebe assim que né Talvez seja eu não conheço eonice não não conheci mas ela talvez seja da personalidade dela né essa coisa de botar para dentro eh de de você enxuga as lágrimas e não divide muito né o que tá acontecendo ali com todo mundo mas existe uma opção do diretor né Total um caminho que ele e aí você vê um pouco a assinatura do Walter você você chegou a dizer que filmou Várias Vários Várias cenas de choro mas ele cortou tudo né não foi isso todas ele cortou todas e também tem isso eu já falei isso mas eu lembrei muito da mamãe eu lembrei de duas coisas uma era o Close final da Irene Papas num filme grego chamado Efigênia então Efigênia o Agamenon marido da clit minestra não tem vento pros barcos irem pra Troia ele vai no oráculo e o oráculo diz que ele tem que matar a filha dele sacrificar a filha dele pros Deuses ficarem contentes e trazerem o vento pros barcos irem pra Troia o Agamenon mata Efigênia e a clestra nunca perdoa ele por ele ter matado a filha dela para fazer uma guerra por uma mulher que fugiu com Paris e tem um último close da Irene Papas que é ela vendo os barcos ir embora e é muito a eí assim é uma coisa lívida racional porque ela vai esperar 10 anos para matar aquele homem numa banheira Então quando você lida com tragédia isso a minha mãe falou uma vez para mim ela disse não tem espaço para melodrama quando uma tragédia acontece é algo que é para além do drama e eu achei que eice era uma personagem trágica eh e ela e ela enfrentava né a tragédia com esse com a mesma espinha assim com a mesma sobriedade daquele último plano da clit minestra foram coisas que eu lembrei da Papas assim que é de outra natureza não é melodrama é outra coisa e aí você achar esse registro em você foi difícil assim né porque talvez você você já falou isso que você é um pouco mais bruta Talvez seja um pouco mais bruta que é eice né E ali também é é e ela tem assim ela ela é é louco porque a única cena que ela tá revoltada é quando ela bate no vidro lá desesperadamente do cara que tá ali na o policial mas você vê que a câmera não faz um traveling Em volta e sobe uma grua e a música cresce é uma cena feita seca com uma câmera do outro lado e ela batendo naquele vidro e logo aquilo para eh o filme também não empurra para isso entende aquo mostra nenhuma né não tem nenhuma cena pornográfica de tortura eh não é sobre isso é sobre a nisso assim eu acho que essa contenção da eonice e são várias coisas faz com que o público seja cúmplice dela eh você sabe o que aquela mulher tá passando e você fica pedindo para ela reagir então isso vai criando no público um um desconforto mas um desconforto assim bonito não é uma coisa para desag ável é é compaixão é empatia é um filme que provoca na gente empatia Eu acho assim e a eonice tinha isso ela era ela é uma mulher da geração da mamãe e muitas coisas aquela casa lembra a minha casa de Infância ela lembrava a minha mãe eice foi criada para casar e ter filhos Então ela tinha toda a questão da etiqueta da idade coisas que eu não tenho isso foi um lado Às vezes o Walter vinha com a Amanda que preparou a gente e dizia Nanda Tá ótimo só falta o sorriso da eonice Eu por exemplo quando ela descobre que o marido morreu e é uma das cenas que tinha uma que eu chorava e que ele cortou Mas o que ele deixou foi ela sorrindo para ele dizendo você se importa de eu não não levar você até a porta é uma mulher assim que ela ela tem a a etiqueta a os códigos da etiqueta até o fim isso foi algo que eu que eu tive que trabalhar que foi a feminilidade da eice que talvez eu não tivesse em mim muito e a coisa do sorriso também funciona como Resistência amorosa naquela cena tão né Eh emblemática do filme Quando ela diz que vai sorrir sim diante da foto né que vamos sorrir exatamente e É engraçado porque no roteiro Eh tava de um jeito assim como se ela já fosse pra foto decidida que ela sabia que ia sorrir e aí quando a gente foi fazendo eu fui sentindo a cena eu falei não Talvez os filhos estejam rindo porque tão se empurrando para para ir paraa foto e ela vê os filhos dela rindo e o cara fala não sem rir e aquilo detone ela uma indignação sabe de não deixa eles rirem eles vão rir então às vezes são pequenos detalhes assim eh que humanizam o filme o filme é cheio disso por exemplo o sorriso do cton quando ele vai ser levado um que tá arrumando a roupa dele né e depois quando ele desce quando eu vi o celton descer na escada ele veio sorrindo eu levei uma eu fiquei surpresa e o celton depois falou para mim eh não eu passei o dia me treinando a não fazer a cena de algo que eu não sei que vai acontecer eu eu me treinei para para achar que eu ia voltar no dia seguinte então o filme é cheio dessas desses sorrisos sabe por isso que não é um filme denúncia um filme para esfregar na cara é um filme profundamente humano e que eu acho que toca isso eu já ouvi de diversas pessoas assim eh que o filme toca elas num lugar que há muito tempo um filme não tocava nesse lugar da humanidade mesmo da empatia da compaixão total e é bonito também vocês terem tido esse espaço que enfim acho que talvez eh eh seja eh um modos operandos do Walter mas nem sempre se tem no set dessa autoralidade né Fernanda de você ah ISS end el né acha da cena Ah mas isso lá desde o desde o é do Terra estrangeira eu vi isso ser fundado ali no Terra estrangeira eu vi a fundação do Walter e a fundação da Daniela e minha mesmo o Terra estrangeira é um filme de Formação mesmo da gente o Walter descobriu que diretor ele era ali e depois eu vi ele ele levar aquilo pro central pro Diário de Uma motocicleta para tudo que ele fez e isso o Walter trouxe a Daniela pro Terra estrangeira porque ele queria experiência de teatro de grupo de como é que se fazia um filme não de cima para baixo mas um filme onde todo mundo era autor e a Daniela trouxe isso para ele e ela tá no nosso filme é um o Walter é absolutamente maest do filme mas todo mundo é convidado a contribuir com aquilo é muito legal e naquela outra conversa também você me falou que Daniela te trouxe muitas coisas para aprender a escrever que é a coisa do improviso e de imaginar o que o diálogo né que aquele personagem é que a Daniela foi chamada no Terra para escrever e aí ela chamou a gente os atores e falou vamos improvisar essa cena e eu me lembro de olhar e falar Ah então talvez escrever num não esteja longe da minha experiência de autora como atriz sim e até hoje tem muito a ver o quando eu escrevo da da minha experiência de atriz quando eu escrevo personagens né você falou da coisa da empatia né e eu é muito interessante porque a opção dela pelo silêncio né diante dos filhos de não dizer o que que tá acontecendo também mostra como que ela é uma mulher repleta de contradições né assim eh no início ela é toda mulherzinha dona de casa perfeita depois se torna uma lutadora brava a ponto de se tornar advogada de desaparecidos e da causa indígena todas essas nuances E essas contradições são muito bem apontadas no filme né no fundo eh ela vai dando o jeito dela né como nós mulheres vamos dando Nosso Jeito diante das coisas é eu perguntei isso pro Marcelo porque o livro do Marcelo É extraordinário tinha muita coisa ali que tá no filme na nas entre linhas eh Uma hora ele fala sobre a questão do Rubens que era um Progressista mas era um macho alfa dos anos 50 era um madman eh de que a ideia da mulher trabalhar para ele era esquis ele não gostava da ideia da aquela mulher ela era o braço direito dele era ela a Bet draper dele então e e uma hora ele ele ela diz que quer trabalhar e ele fala mas você vai fazer o quê trabalhar numa botique ela fica Danada da vida e a dalau Oscar numa entrevista que fez pro filme Ela disse a a Eunice eu percebia nela que ela era incrível ela era uma mulher incrível chefe daquela família com Rubens mas que aquilo não era tudo para ela que ela e e meio que ela tava criando os filhos mais novos e que ela ia partir para alguma coisa e que a morte do Rubens acelera Então isso é muito contraditório assim a essa tragédia do Rubens Paiva fez ela virar ela eh eu acho que ela viraria de qualquer maneira mas aquele aquela Utopia daquele casal com aquela família O filme é muito sobre isso a a agora que a unice entende naquela lanchonete com os filhos sabendo que ele tá morto que não tem mais para trás que acabou a Utopia que ela tem que virar alguém dali pra frente é é um uma heroína extraordinária e com contradições Porque o fato dela não contar pros filhos cria para os filhos uma questão muito complexa que é ele cada um matou o pai a sua maneira em Silêncio em um momento diferente eh isso é muito dura ao mesmo tempo como é que ela ia explicar para filhos de 8 a 18 anos o que tinham feito com o pai deles isso é criar num numa criança num adolescente uma espécie de descrença na vida eh então de certa maneira ela preservou a inocência deles um pouco nisso Sim e se livrou de ter que fazer isso é isso até até isso aproxima que mostra que ninguém é perfeito né E aí né nessa coisa que você falou tamb ela não é uma heroína sem sem contradições ela ela dá um tapa na cara da filha ela e El ela ela vai Como pode ela vai Como pode é isso isso e você falou né que e da coisa do do feminino é um filme feminista do começo ao fim a começar pelo ponto né de vista da mulher e da família depois o retrato dessa mulher especificamente como uma heroína silenciosa do Brasil mas há umas sutilezas muito finas que me chamam atenção e que mostram como as o poder das mulheres mesmo que assim enquanto a filha menor eh já mostra que tá sentindo tudo tem uma cena que ela tá com os olhos arregalados de madrugada e o Marcelo o menino tá lá dormindo babando nem se tocou né então assim é tão bonito quando mostra como mostra essa sensibilidade mesmo é o feminino em muitas camadas né muitas e É engraçado como eice ela ela vem de ser a viúva do Rubens pra mãe do Marcelo a primeira contato que eu tive com eice foi no Feliz Ano Velho e vendo as peças do felizo velho com atrizes extraordinárias fazendo eonice e você já reconhecia naquela mulher uma grande mulher mas ela era uma grande mãe do Marcelo eh tem uma entrevista que me chamou muita atenção paraa María Gabriela no lançamento do Feliz Ano Velho em que o Nice vai e o Marcelo não pode ir porque ele tinha uma prova na faculdade e aí a Marília Gabriela isso a eice já tava advogando pela demarcação das terras indígenas atendendo o Sting no telefone trabalhando com a Manuela Carneiro da Cunha e ninguém sabia e a Marília pergunta para ela ah mas você é advoga né você é advogada ela fala sentada fala é sou mas você advoga e ela fala ah advogo ponto ela em nenhum momento fala não eu tô lutando pelo nada essa mulher hoje em dia é muito surpreendente porque hoje em dia todo mundo se vende no Instagram nós todos somos eh garotos propaganda de nós mesmos e essa mulher que o importante para ela era a causa não era o reconhecimento pela causa Então esse filme também tem isso que é apresentar o Brasil uma grande brasileira que a gente não conhecia que é uma um uma coisa da mulher também que é ela age a mulher age na sombra a a eí ela agiu na na sombra assim sem nunca ter tido essa necessidade foi preciso que o filho adulto escrevesse um livro e que diz caramba heroína da minha família era minha mãe e ela criou o Marcelo o mesmo processo de não vitimização que ela lutou para que a família não tivesse com relação à morte do Rubens você vê que ela passou pro Marcelo Marcelo é assombroso que ele tenha tido esse acidente e ele não seja o acidente ele é o Marcelo isso eu acho que é uma é uma lição da eonice com esse filho Total você falou né da daquela cena da compreensão quea ela tá na sorveteria e ela vê que é Irreversível né Não vai voltar que ele não vai voltar eu ten um amigo meu muito maravilhoso o Pedro Henrique França que ele fez um paralelo muito interessante com esse seu olhar nessa cena e o olhar da sua mãe em Central do Brasil quando entra no ônibus com o pequeno também é esse olhar de acabou agora daqui paraa frente é tão bonito isso né é eu Valter ele entende essas cois ele tem uma feminina Walter eu acho que ele tem um não sei se é feminino eu acho que ele tem essa alma minha mãe usa essa palavra impressionista que é a nunca é reto ele nunca é expositivo eh é na entrelinha que você entende em algo subliminar é aquilo né o pintor não pinta a forma ele pinta a sombra da forma isso é o Walter o Walter pinta a sombra da coisa sim eh é um cara muito sensível e ele tem e e e assim eu queria muito que o Walter gostasse de fazer esse filme sabe quando ele eu tava eu acho que todo mundo tava muito emocionado dele voltar a filmar no Brasil eh e e e e uma história pessoal dele isso faz muita diferença ao mesmo tempo o Walter ele foi criado ele tem traços europeus muito fortes na formação dele então ele é essa mistura e de algo profundamente brasileiro e ele acertou na engraçado porque o Walter durante muito tempo ele namorou a ideia de filmar zzu Angel mas não era zuu Angel ele tinha que filmar a casa onde ele esteve Essa é a diferença desse filme é um filme pessoal do Walter eh com essa capacidade com essa visão ele tem uma sensibilidade diferente pela própria formação dele é E aí chega esse momento né que vocês dividem você e Fernandona dividem o mesmo papel no filme do Walter com que com quem você fez Terra estrangeira ela fez foi indicada ao Oscar por Central do Brasil é é muita emoção não é não Fernando Ah eu acho que é lindo assim é um negócio emocionante emocionante assim dessas duas pontas se unirem e eu sei o quanto Central tá na base do da formação dele para fazer quanto o Terra tá na base da formação dele para fazer o Central então ele juntar as duas pontas em torno de uma história que é tão pessoal para ele de uma uma casa que ele voltou a abrir sabe o É engraçado como o Walter nesse filme ele tinha uma obsessão eh por chegar a gente começou a fazer esse filme refazendo as fotos Ah ele refez aquela casa ele refez aquela casa aquela casa tinha cheiro de casa tinha cheiro de alho na cozinha o o Carlo conte é um cara incrível e as fotos quando a gente refez não era só a mesma roupa a mesma eu ele ele era uma era um não sei ele foi tão fiel ao detalhe assim ontem aliás foi engraçado porque eu tava aqui me maquiando para mais uma coisa olhando sei lá do Instagram de algum lugar desses E aí pulou o Jack Nicholson falando que um dia o kub disse para ele quando você quiser fazer a realidade Você não deve tentar chegar na realidade você deve tentar filmar a fotografia da realidade e esse filme ele começou por a gente refazendo a fotografia daquelas pessoas foi a porta de entrada da gente então é como se fosse um filme de uma memória fotográfica que o Walter tem na alma dele daquela casa e que é também a memória de um país possível que a gente teve uma vez o Jabor me disse assim a gente ia fazer um país incrível porque essa geração do Rubens da minha mãe que viveram o fim dos anos 50 início dos anos 60 com Lina bobard Oscar meer eh os concretistas a Bossa Nova houve ali um um um ensaio de Brasil eh antena do mundo que é meio essa família que então essa memória desse Brasil a fotografia desse Brasil é que o Walter imprimiu no filme tá al já estamos encerrando vamos aqui mais só para para eh concretizar aqui não tem como falar do filme Sem falar da atuação da Fernanda A mamãe é impressionante né impressionante é é um neg ela é impressionante e eu agora assim fazendo eí eu entendo uma coisa quer dizer a mamãe é um assombro Mas o que ela tem é a ela tem dentro dela todos os personagens que ela já fez um ator Vai acumulando dentro de si as experiências ias que ele foi tendo então quando ela compreende o vazio do Alzheimer ao mesmo tempo que o rosto dela é reunião de todos os personagens que a gente já viu ela fazer eh você imaginar que aquela pessoa que tão cheia de mundos que a gente já viu ela fazer estar vazia é um choque é um essa ideia de que ela possa estar vazia eh e eu acho que o filme o tempo todo tem essa mistura entre ator e personagem assim o Walter filmou em ordem cronológica então o quando o celton foi embora ele foi embora da minha vida quando a gente deu aquela festa quando a gente deu aquela festa aqueles amigos eram os nossos amigos a aquela família eu amo aqueles atores todos o o Gui e a Cora são dois duas crianças extraordinárias que trouxeram frescor pra gente eh o dia que fecharam aquela casa e que chega a linha dura eu senti aquilo eu senti falta daquele período do filme que tinha se encerrado quando eu fui tirada daquela Urca idílica e fui para um lugar horrível fazer as duas semanas da prisão aquilo bateu em mim então essa paralelo entre a experiência do ator e do filme O Walter lutou o tempo todo para ter e acho que tá no rosto da M da mamãe No final a gente vê a mamãe vazia isso é chocante assustador não só pela eonice como pela gente que já viu ela em tanto lugar sim bom você eh falou mesmo né Como você emplacou vários memes figurinhas com van com a Fátima e mas agora virou assim ressuscitaram milhões de entrevistas suas né um monte de cenas e tal como é que tem sido se rever assim em tantas situações em tantas épocas diferentes da vida não acreditar Outro dia eu mostrei aqui pro pra galera do que tá lançando os publish e tal eu dançando Eguinha Pocotó pro celton cara eles não acreditavam eles olhavam porque eu dizia não a gente eu fiz dois programas eles não tinham ideia do que era e é um meme maravilhoso que tem esses são os nossos representantes do Óscar e era eu dançando Eguinha Pocotó numa cena dos normais né dos normais Outro dia eu vi uma que eu tinha esquecido que era eu falando de como eu escovo o dente pro Jô Soares eh eu acho meme uma coisa extraordiná eu acho figurinha uma linguagem superior e mê uma linguagem superior de comunicação e eu sou muito orgulhosa de ter vingado para as novas as novas gerações em forma de meme figurinha é o auge né gente é o auge figurinha é o auge eu tenho apreço por figurinha eu acho que quem me dá uma figurinha boa aquilo de estudo é é sensacional então eu sou fã dessa linguagem mesmo acho uma linguagem superior última pergunta é numa dessas entrevistas que ressuscitaram você fala paraa Bruna lombarde eh ela pergunta o que que te dá medo e você diz per interesse pela vida gente essas perguntas você tá faz essas respostas filosóficas né depois elas ficam no ar hoje em dia a gente tem que ter cuidado é mas eu acho que sim isso para sempre né Eu acho que vai ficando cada vez mais forte isso né envelhecer não importa a idade é quando você perde o interesse pela vida quando você acha que não tem mais saída não tem mais interesse isso eu continuo batalhando forte para não perder porque se perder é pior muito bom querida muito obrigada pelo seu tempo pela sua aciência e esse filme eu tenho certeza que vai continuar tocando todo mundo e sendo um assombro be ah ISO S queria dizer uma coisa que vão ao cinema que é um filme que vale a pena ver grande com todo mundo é um bom filme para para ir ao cinema talvez seja o seu maior desejo com esse filme levar as pessoas ao cinema esse seria o assim eu experimentei isso com o teatro sabe o teatro é outro que morre e volta morre e volta e Atualmente as pessoas voltaram pro Teatro e é muito legal eu tenho visto filmes há muito tempo eu não fazia isso no meio de plateias a reação da plateia é um é uma experiência tridimensional de cinema você e esse filme eh vale a pena Até porque eu acho que é um filme que as pessoas estão com curiosidade para ver a gente tem a chance de irem e quem não for não vai ter assunto no bar né então é melhor pessoa ir para não boiar na hora do não ser assolado por spoiler e e e no caso desse filme é muito legal ver no cinema porque além para toda a importância da história é um Rigor estético é de uma beleza impressionante exatamente e o Walter é um cara assim Fiel do cinema feito em 35 MM vale muito e ao cinema ter essa experiência então isso seria o maior prêmio Obrigada Fernandinha Valeu beijo beijo

Fonte





Fique informado(a) de tudo que acontece, em MeioClick®