Será que estamos realmente preparados para uma terceira guerra mundial? Se ela começasse amanhã, você saberia onde o primeiro tiro seria disparado? Na Rússia, na Ucrânia, na faixa de Gaza? E caso acontecesse, quais cidades e países seriam mais afetados? Essa guerra pode até não acontecer. E se acontecer, talvez nem seja nesses lugares. Mas diante do cenário atual, tem uma cidade que já está preparada. Eu estou falando de Narva. Não é Nárnia, tá? É Narva, uma pequena cidade da Estônia, país que já foi parte da antiga União Soviética, mesmo tendo sido independente antes disso. Mas afinal, por que a Estônia já se prepara para um possível ataque russo? E por que isso pode se transformar na próxima Grande Guerra? Narva fica bem na principal fronteira física entre a Rússia e a Estônia, o rio Narva. A maioria da população fala russo e apenas uma ponte de duas pistas liga os dois países. A cidade está a 210 km de Talim, capital da Estônia, e a 160 km de São Petersburgo, uma das principais cidades da Rússia. Agora vamos entender porque a Estônia está armando bunkers, cavando trincheiras e instalando armadilhas em Narva. A lógica por trás disso é muito simples. Nunca confie nos ossos. Mas será mesmo que a ameaça é tão real assim? A Estônia acredita que a Rússia tem interesse em Narva, do mesmo jeito que Vladimir Putin demonstrou interesse por Donetsk na Ucrânia em 2022, pela Geórgia em 2008, pela Península da Crimeia em 2014 e pelas regiões de Lugansk, Kerson e Zaporijia também em 2022. Só que uma tentativa russa de conquistar Narva teria consequências enormes, envolvendo diretamente os países membros da OTAN. Para entender melhor essa atenção, primeiro precisamos conhecer Narva, sua localização, sua história e sua importância estratégica para a região. Narva é a cidade mais leste da Estônia, país membro tanto da OTAN quanto da União Europeia. A leste corre o rio Narva, que marca a fronteira física entre Estônia e Rússia. De um lado do rio está Narva, do outro a cidade russa de Ivanorot, com sua fortaleza em ruínas e presença militar russa. O rio Narva tem cerca de 150 m de largura e para unir os dois países, existe uma ponte de 162 m de comprimento com pista dupla. Durante a era soviética, ela era chamada de ponte da amizade, simbolizando a suposta paz entre as repúblicas soviéticas e seus vizinhos. Hoje, essa é a única ligação direta entre Estônia e Rússia. A preocupação da Estônia com uma possível investida russa começa justamente em Narva, que provavelmente seria uma das primeiras cidades atacadas. Por isso a cidade já está se preparando. Mais de 600 bunkers estão sendo construídos tanto dentro quanto ao redor de Nava. E os bunkers são apenas o começo. A Estônia também ativou zondas de prontidão nas fronteiras, garantindo uma resposta militar rápida caso necessária. Trincheiras, armadilhas para tanques e torres de observação estão sendo instaladas. A grande preocupação é evitar que Narva seja devastada como tantas cidades ucranianas foram nos últimos anos. Outro motivo de alerta para a Estônia é o perfil da população de Narva. Cerca de 96% dos habitantes falam russo. Isso transforma a cidade em um alvo potencial, já que a Rússia tem um histórico de usar a proteção de populações étnicas como justificativa para invadir e anexar territórios vizinhos. Putin utilizou da política de proteção étnica para justificar a conquista de vários territórios ao longo dos anos, da Geórgia em 2008 até Donetsk na Ucrânia em 2024, sob o pretexto de estar protegendo os falantes de Russo que vivem nessas localidades. A premissa principal dessa política é que se buscou perceber alguma ameaça a uma população russófona, reserva-se o direito de intervir política ou militarmente para defender os interesses desses povos, mesmo violando a soberania de outros países. Antes de lançar o ataque em grande escala contra a Ucrânia, em 2022, Putin acusou a Ucrânia de cometer genocídio contra falantes de russo no leste do país e chamou a invasão de uma operação especial para proteger o povo russo na Ucrânia. Se Narva tem uma maioria esmagadora de falantes de russo, então eles poderiam ser os próximos? Oficiais estonianos não estão arriscando. Em 2023, a primeira ministra Kaja Calas disse que o que vemos agora é que a Rússia realmente não quer paz. Havia um entendimento em volta da mesa de que a Rússia realmente não pode ser confiável. E o aviso dela é estratégico, pois a Estônia não tem território suficiente para uma zona de amortecimento. Se a Rússia cruzar o rio Narva, estará pisando em território da OTAN, ativando automaticamente o artigo 5, a cláusula de defesa coletiva. Isso poderia arrastar todo o ocidente para o conflito e transformar em poucas horas o risco de terceira guerra mundial em realidade. Mas a Estônia sabe que não pode contar apenas com uma reação rápida da OTAN. Por isso está construindo o campo rito a menos de 20 km de Narva, a primeira base militar do país desde o fim da Guerra Fria. Projetado para brigar 1000 soldados, o campo rito foi pensado para defesa avançada, movimentação rápida de tropas, operações de blindados e interação total com as forças da OTAN. A base é parte do plano de reforço militar no flanco oriental lançado em 2022. Outros países da OTAN também estão se preparando. Tropas britânicas circulam pela Estônia e foguetes norte-americanos já foram instalados em território estoniano. Paralelamente, a Estônia elevou seu investimento em defesa para 3,3% do PIB, um dos índices mais altos entre os membros da OTAN. Mas o governo sabe que segurança não se constrói só com armas. É preciso também mudar a mentalidade da população. Os estonianos estão sendo preparados para lutar desde o primeiro momento de uma possível invasão sem esperar resgates. A estratégia é atrasar o inimigo, defender pontos estratégicos e ganhar tempo até que as grandes forças da OTAN possam reagir. A Estônia não quer repetir o que aconteceu com a Ucrânia, que perdeu 25% do seu território para a Rússia entre fevereiro e abril de 2022, antes de uma resposta efetiva do Ocidente, que só veio de fato em maio. Hoje, cerca de 20% da Ucrânia permanece sob controle russo. Em Narva, a população sabe exatamente o que está em jogo. Eles entendem que serão a linha de frente em caso de ataque russo, mas ninguém está entrando em pânico. Tal vez porque Narva já enfrentou o pior antes. Entre fevereiro e agosto de 1944, Narva foi alvo de uma das batalhas mais sangrentas da Segunda Guerra Mundial. Tropas alemães, reforçadas por recrutas estonianos, tentaram conter a ofensiva soviética, mas os soviéticos não desistiram e lançaram repetidos ataques atravessando o rio Narva. A luta foi brutal. Ao final, a histórica cidade velha de Narva foi completamente destruída. 500.000 soldados perderam a vida. Por isso, quando se fala em guerra, o povo de Narva sabe que o risco é real, mas eles também sabem como resistir. Depois da ocupação soviética, a língua e a cultura estoniana foram marginalizadas. Ainda assim, a identidade nacional sobreviveu. Após a queda da União Soviética em 1991, a Estônia recuperou sua independência e restaurou sua cidadania. Mas uma pergunta persiste. Em caso de novo conflitos, os russófonos da Estônia estariam com Talim ou com Mosco. Para não deixar essa dúvida crescer, o governo estoriano aprovou em 2022 novas leis para retirar o russo das escolas. controlar a mídia ligada a Muscou e remover monumentos soviéticos espalhados pelo país. Em resposta, a Rússia acusou a Estônia de russofobia. Enquanto a tensão política aumenta, a espionagem, óbvio, já começou. Segundo o Serviço de Segurança Interna Estônia, a atividade de inteligência russa no país se intensificou nos últimos anos. Desde 2020, o governo estoniano sofreu uma série de ataques cibernéticos. A mídia russa também ampliou campanhas de desinformação e só em 2022 foram registrados mais de 4,5.000 ataques digitais. O objetivo russo, é claro, dividir a sociedade estoniana e desestabilizar o governo. Em 2024, após investigações, a polícia estoniana prendeu vários suspeitos ligados a redes de espionagem russas. Por outro lado, a Estônia reforçou laços com países vizinhos como Suécia e Finlândia, fechando o Mar Báltico com territórios da OTAN. Um ataque a Nava hoje ameaçaria toda a segurança do norte da Europa. No fim de 2024, tropas americanas, francesas e britânicas participaram de exercícios de vigilância militar na região, treinamentos reais, projetados para testar a capacidade de resposta rápida em caso de emergência. A Polônia e a Noruega também t apoiado a Estônia, enviando equipamentos pesados, como mísseis de curto alcance, veículos blindados, sonares e drones, além de reforçar a logística para envio de suprimentos e armas. Mesmo com esse apoio, a Estônia sabe que se o ataque vier, terá que resistir sozinha nas primeiras horas. Não pode esperar dias nem semanas, por isso está correndo contra o tempo. Estradas estão sendo fortificadas. Munições estocadas em locais estratégicos e a força de reserva está em expansão. A meta é crescer de 24.000 para 43.000 soldados até 2028, um aumento de quase 80%. E não é só a quantidade, a qualidade dos treinamentos também mudou. Os soldados estonianos estão sendo preparados para o combate real, para travar o inimigo, retardar seu avanço e defender posições cruciais. O coração da estratégia estoniana é o plano de defesa total que combina forças militares com civis preparados para resistir em todas as frentes. A Liga de Defesa da Estônia, uma rede de milícias voluntárias, já contam com mais de 20.000 membros prontos para agir em qualquer emergência. E as mulheres também estão se preparando. A Organização de Defesa Voluntária Feminina treina mulheres em logística, vigilância, defesa cibernética e suporte civil. Os jovens recebem treinamento físico, noções de navegação e instrução básica em segurança nacional. A estratégia é clara. Em vez de evacuar, os civis serão armados e treinados para resistir. Pontes serão destruídas, estradas bloqueadas e estoques de suprimentos preservados para as milícias locais. A Estônia, assim como seus aliados da OTAN, está se preparando para o pior cenário, um ataque russo, a narra. Se isso acontecer, seria a faísca final para a explosão da terceira guerra mundial? Diz aí nos comentários e até a próxima.
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