Olá. Eu quando me formei na faculdade de medicina, me formei em 1967. O Brasil tinha aí 80 e poucos milhões de habitantes e a saúde era muito precária. Nós não tínhamos um sistema de saúde organizado. As pessoas mais pobres, as que viviam em lugares mais distantes, eram obrigadas a depender da caridade pública pro tratamento. Santas Casas de Misericórdia e algumas outras instituições recebiam as pessoas quando ficavam doentes. Eu mesmo nasci num bairro operário aqui em São Paulo, um bairro que fica meia hora a pé da Praça da Sé. Não tive pediatra, nenhuma das crianças que jogavam bola comigo na rua tiveram pediatra também. E nós não recebíamos vacinas. Eu tive todas as doenças da infância chamadas doenças infantis. Mais tarde, quando eu me formei médico, o problema do Brasil era as endemias rurais. A gente recebia no hospitais, no hospital das clínicas da USP aqui, pacientes que vinham do Brasil inteiro, esquistossomose, doença de chagas, malária, as verminoses eram universais. As crianças que moravam na periferia de São Paulo chegavam nos no no dia de plantão e na pediatria, desidratadas, morre quatro, cinco crianças, era normal. Em São Paulo, a e o a mortalidade infantil era de mais de 70 para cada 1000 crianças nascidas vivas. E no Brasil, especialmente os pontos mais distantes, passava de 100 crianças. mais de 10% morriam no primeiro ano de vida. Aí veio o SUS em 88. Isso transformou completamente o jeito de praticar medicina. Nós vamos discutir esse aspecto, o que aconteceu com a medicina nos últimos anos e o que aconteceu com os médicos na prática cotidiana. Para isso, nós trouxemos dois colegas. Trouxemos o Dr. Rogério Reis, que é vice-presidente dos hospitais Rede Américas, e o Dr. Gustavo Fernandes, que é vice-presidente de oncologia da rede Américas. Esse episódio do Dracast faz parte de uma série de podcasts que nós estamos preparando em parceria com a Rede Américas. [Música] Para começar essa conversa, eu vou perguntar para cada um deles quando eles se formaram e mais ou menos qual foi a trajetória de cada um. Começamos lá, Gustavo. Então, para mim eu formei em 2003. Para mim, médico foi uma coisa, foi uma deão relativamente simples. A minha família é uma família de médicos, diria com alguma facilidade que eu tenho 30 parentes médicos com relativa proximidade, uma escolha relativamente fácil. Era uma, cresci vendo o meu pai ser médico, meu pai tem 80 anos e é um médico ativo bastante ainda, não não fala em se aposentar ainda. Ah, então essa foi uma escolha simples para mim. Agora, os os caminhos que eu percorri até fazer o que eu faço hoje, quer dizer, continuo sendo sendo médico e não abro mão disso e tenho o meu consultório e tem uma carreira de executivo. Esses são caminhos ah que tem explicações e interessantes, não escolhas muito feitas por mim originalmente, mas eu sou oncologista ah por um impacto da doença na minha família. Minha mãe adoeceu, teve um cancelho ovário quando eu era estudante de medicina. Isso abriu o meu olho para essa importante área da medicina e eu achei que podia encontrar um lugar em que o meu propósito fosse, tivesse um significado e um gosto especial para mim durante a vida inteira. E e ali foi a carreira de executivo, veio para mim, tando em Brasília, como foi o lugar onde eu escolhi praticar a medicina, depois de fazer minha formação na Paraíba, onde eu nasci, em São Paulo, nos Estados Unidos, achando que eu poderia contribuir a partir do da ideia do que que o paciente precisava e do que que um médico que queria exercer medicina em alto padrão precisava com estruturação dos serviços. Então, a minha carreira de médico nasce da minha família, a minha carreira de oncologista nasce também de um evento duro na minha família, mas que eu transformei em algo bom na minha vida. Minha carreira de executivo nasce de como que eu atendo as necessidades dos médicos e dos pacientes em última análise, em primeiro lugar, estruturando um sistema de saúde que os atenda e que seja melhor. Então é é mais ou menos assim que eu que eu chego aqui. Rogério, eu me formei em 1999 e ao contrário aqui do Gustavo, eu sou de uma família que não tinha nenhum médico, então família de funcionários públicos, engenheiros e advogados, mas foi muito fácil para mim escolher porque eu sempre tive a ideia de poder cuidar, cuidar de alguém e e prestar esse serviço que para mim poderia ser um sacerdócio. Então, eu não tive nenhuma dúvida da profissão que eu escolheria. Eu estudei na Universidade Federal Fluminense, lá no Rio de Janeiro, e eu entrei na faculdade convicto de que eu faria pediatria e passei os 6 anos com esse com essa ideia fixa até chegar no internato e perceber que eu gostava muito das crianças saudáveis. E aí eu decidi ser pediatra de crianças um pouquinho maiores. E aí eu decidi fazer clínica médica, que era o equivalente para mim de cuidado de um ser humano por inteiro, só que em outra faixa etária. É assim, eu fiz clínica médica, depois eu decidi fazer reumatologia num aprofundamento aí também numa especialidade que tem uma visão sistêmica do do organismo como um todo. Comecei a praticar medicina e rapidamente fui me envolvendo em papéis de gestão, primeiramente gestão da medicina, gestão de equipes médicas, setores médicos de um hospital, até que o hospital onde eu estava foi adquirido por uma grande corporação que era a 1000. Eu tive a felicidade de conhecer o fundador da 1000, Dr. Edson Bueno, e em algumas interações, ele chega um dia para mim e fala assim: "Esse hospital é muito pequeno para você. Eu vou te dar mais trabalho". E de lá para cá, o trabalho nunca parou. Eu só tenho tido cada vez mais trabalhos, mais oportunidades de sim continuar cuidando de pessoas, mas de uma forma diferente, né? cuidando de um sistema, cuidando de no momento milhões de pessoas através do que eu faço. Cara, fui, fui buscar também a parte acadêmica na parte de gestão, alguns cursos aqui e fora. E eu me sinto plenamente realizado de poder fazer esse cuidado, não mais só das crianças, dos adultos, mas de todas as faixa etárias, todos os gêneros no momento, em várias regiões do país. Você se formou em 1999. 99. Então são 26 anos de praticamente que mudou na medicina. Claro, mudou tudo, a gente falaria disso até amanhã, mas quais foram os pontos principais no decorrer da sua carreira? Ah, sem dúvida a tecnologia, né? Eu sempre faço um paralelo. Eu entrei na faculdade em 93, não tínhamos celular e eu saí da faculdade com celular. E é incrível como isso simboliza o poder que a comunicação e depois através do celular, a própria internet no celular, né, o computador que veio pra nossa mão e a representação que isso faz enquanto como que a gente se conecta com os pacientes, com os colegas médicos, com a equipe multiorta e e tá juntamente com o médico nesse trabalho do cuidado. E na onda da tecnologia, quanto mudou da medicina diagnóstica, né? Como a gente fazia eh valorizávamos muito mais. É uma pena que muitas vezes os médicos hoje acham que tá dispensado o exame clínico e ele não tá, mas era o que no o que tínhamos, especialmente algumas algumas regiões do país, anamésia, exame clínico era 90% do que do do arsenal que tínhamos à mão para fazer diagnóstico. E é claro que a medicina diagnósticos aí, especialmente na minha especialidade depois da reumatologia, tanto a parte de imagem quanto testes genéticos, testes imunológicos e depois a tecnologia incorporada aos tratamentos, tratamentos mais específicos, mais direcionados a aquilo que tá afetando o paciente, fez uma revolução, né, impressionante nesses últimos 26 anos da da do tempo que eu tive recebendo o diploma e agora acompanhando meus colegas médicos como vice-presidente de uma rede de hospitais. o quanto que essa revolução afetou a todos nós. Gustavo, eu fui oncologista a vida inteira, fui um dos precursores da da oncologia no Brasil, o testemunho ocular do nascimento da oncologia. Comecei a fazer oncologia nos anos 70, né? E a gente tinha recursos mínimos, né? Vou assistir toda essa essa evolução da oncologia na prática diária. Como você vê? Você se formou em 2003, não foi? é do fim de 2002, começo 2003 e aí até hoje são 22 anos. Isso aqui eu acho que a gente vem sendo transformado pela tecnologia que muda as relações, que transforma as demandas. Acho que é basicamente esse o conjunto. Tecnologia trouxe pro paciente oncológico uma simetrização do conhecimento. Então eles têm um nível de informação muito maior do que o do que o que tinha do que o que tinha antes. Ah, isso gera uma mudança na na relação. Ela gera uma, a, a simetria de conhecimento era enorme, hoje ela ela é diminuída, salvo quando a informação é de má qualidade, aí vira um abismo que em vez de uma assimetria a gente tem que aproximar continentes. Isso termina mudando as demandas. Então, a demanda do teu paciente hoje é muito mais qualificada. ele ele vem buscando um nível de compreensão em cima daquilo que é feito muito maior do que o que tinha antes. Ele não vem buscar uma conduta só, ele não vem buscar o caminho só, ele vem explicar, quer saber a explicação de por que eh tem aquele caminho, onde que aquele caminho leva, que tipo de ganho traz. Então, eu diria que é uma medicina mais consensual, mais consciente e melhor se você tiver tempo para exercê-lo. A mágica aqui é que a gente o a tecnologia acelera tudo, mas ela não freia o tempo que a gente precisa para poder, digamos assim, digerir essas informações junto com uma outra pessoa. Mas então para mim, a maior transformação é essa, transformação relacional, simetria. É lógico, que a tecnologia melhorou muito. nosso o nosso mundo da oncologia vê a mortalidade por câncer, por idade cair ano contra ano, ano contra ano. Quer dizer, a gente tem mais de 30% já de redução de mortalidade eh absoluta quando se olha a faixa etária e tipo de câncer. Mas a gente eh também vê uma uma transformação das relações de pacientes muito mais com mais consciência. E que pressão essa medicina com mais tecnologia e mais trabalho mesmo, mais influências externas trouxe sobre nós médicos. traz de novo uma pressão por informação e por adequação no chapéu de médico, eh, colocar aquilo que a tecnologia nova oferta eh pro paciente de uma forma que ele consiga compreender. Vou falar uma coisa que é relativamente comum no consultório já foi muito mais alguém achar que, por exemplo, um robô cirurgião ou uma uma cirurgia robótica é feita pelo robô. E na verdade você tem que explicar pro paciente que na verdade o robô é como se fosse um grande porta agulha gigante. Ele ele segura, ele dá uma uma precisão pro cirurgião que tá operando. Então sem tem impressão que o robô o robô faz tudo sozinho. É exato. Tá assim, os cirurgiões no começo que que eles brincavam dizer fal não quero um robô para operar. Operar eu gosto. Eu quero um robô fazer curativo no pós-operatório para conversar com gente chata, tal. Então assim, mas mas é é esse essas são exemplos de coisas que a gente precisa traduzir paraas pessoas. E como você vê essa mudança, a pressão sobre o médico? Como o médico de hoje difere do médico de 20, da minha geração e de gerações anteriores? Eu vejo duas pressões principais, assim, a primeiro da da cobrança da disponibilidade permanente, 24 horas por dia, né? Então, também o mesmo avanço da comunicação que fez com que esse profissional estivesse mais acessível, de certa forma um um inconsciente de que ele tem que estar acessível 24 horas por dia para quaisquer demandas, já que ao alcance de uma digitação de um texto, esse paciente faz o contrato com ele. Então essa é uma grande pressão, né, de como que isso deve ser conduzido a favor do paciente e a favor dessa prática médica. Quais são os limites, quais são os canais adequados, tanto para acesso do paciente, da equipe multidisciplinar, a própria equipe médica que de outras especialidades que estão juntos. É uma pressão muito grande e entendo que a gente ainda não encontrou a forma ideal de lidar com ela, até por esse fenômeno ser tão novo. Uma outra pressão que eu que eu reparo que as novas gerações precisam, não só as novas gerações, acho que a atualidade os médicos precisam lidar eh com a com as mídias, né? Não tem mais como o médico dispensar, prescindir da sua representação através das mídias sociais. Muitas vezes hoje os pacientes nos medem ou medem aos médicos através de seguidores, postagens, conteúdos e muito menos até do que na nossa época a formação, onde fez, que trabalho publicou, onde estudou, em que equipe que esteve. Então essa é uma revolução e que não tem volta, né? E obviamente os médicos precisam se adaptar a ela, tirando proveito no sentido positivo de veicular bons conteúdos, fazer também uma prestação de serviço para uma sociedade, independente se esse é um paciente que ele atende diretamente ou não, mas é uma forma de praticar medicina através da divulgação de conteúdos que possam colaborar com bom envelhecimento, com cuidado, com, enfim, com todas as outras boas práticas que podem acontecer. Acho que são duas grandes pressões. E claro, a a pressão que nós tínhamos de estarmos atualizados, ela também tinha um gargalo de como poderíamos pegar os artigos, ir na biblioteca, baixar, né? E aí solicitar o artigo, ele vinha pelo correio. Hoje tá tudo disponível o tempo todo. Então, como também filtrar e e e cuidar desse excesso de conteúdo? dá a grande pressão sobre a turma médica que pratica e em especial os mais jovens. Você sabe que eu vi nascer esse problema atual. Eu comecei a fazer entradas na mídia, comecei por rádio em São Paulo na epidemia de Aides, porque eu senti que naquele momento era uma ignorância absoluta nessa área e enfrentei uma barra pesada mesmo, porque naquela época médico sério não falava nos meios de comunicação de massa. Eles consideravam que o médico quando ia para um meio de comunicação, ele estava fazendo propaganda de si mesmo, o que é um absurdo, né? Mas era assim que se pensava naquele tempo. Demorou para as coisas se modificarem. E hoje nós estamos vendo o exagero, né? Estamos vendo gente completamente despreparada, falando de tratamento sem nenhuma comprovação. Exato. Eh, científica. E e a pessoa que tá ali acessando vê que é um médico, que é grave, é médico tanto quanto vocês dois e eu também. Como é que ele sabe, como é que ele consegue estabelecer essa diferença? Como é que você vê essa essa enxurada de informações de baixa credibilidade? Tem uma uma questão que Rogério comentou que é é e que eu eu uso um termo para que é a construção da autoridade médica, né? Essa foi muito modificada. A construção do do da autoridade médica, ela era feita em cima de conhecimento, em cima de acesso e leitura e análise dos artigos da literatura médica, de um número grande de casos do respeito dos pares, de alguém que referenciar um paciente, dizer: "Não, vai lá no fulano que que ele que ele sabe". Hoje a construção da autoridade médica, ela passa pelos canais digitais, pelo número de seguidores, por quantas entrevistas se deu, pela pelo nível de eh pela qualidade da qualidade da informação. Então, assim, o lugar certo tá entre os dois. que é uma uma autoridade médica construída em cima de base médica sólida, reconhecimento dos pares, mas que também não fique de costas pro pro propósito dele, que é que é em última análise impactar a vida dos dos pacientes, seja através de informação que ele dê em mídia social, em jornal ou ah em algum canal grande ou pequeno, ou seja, no consultório, onde aquilo é feito de maneira um a um. Então, eh, a autoridade médica tá sendo construída de um jeito que precisa ser aprimorado. Esse é o o ponto, Rogério. O, nós vimos na durante a COVID, essa nós fomos obrigados a entrar de sola na telemedicina porque não havia outra maneira, né? E nós começamos a aprender como se lida com isso, né? De que forma a gente é capaz de lidar. Normalmente existe uma grande resistência. nossos próprios conselhos de medicina eram contrários à telemedicina. E nós estamos aprendendo que isso pode ser uma arma grande num país como o nosso, uma tremenda desigualdade social, regional, todos os sentidos. Como você vê o papel da medicina? Que utilidade maior ela pode ter no âmbito geral do do Sistema Único de Saúde no SUS? Telemedicina, ela, nesse sentido, a gente pode dizer que felizmente passamos pela pela pandemia, porque ela nos fez poupar anos de bateção de cabeça, de discussões, de teses, de prós e contras, porque foi preciso fazer, fazer rápido e vimos na prática o quanto ela pode contribuir. A telemedicina ela ela é indispensável tanto no contato direto com o paciente quanto na interconsulta de especialista para especialista ou de um especialista para uma equipe básica de saúde de atenção primária que pode estar na região distante, uma equipe que acaba conseguindo resolver a maior parte dos casos, um farmacêutico, um enfermeiro, um agente de saúde, eh eventualmente um médico que não tem uma especialidade, fazendo uma interconsulta com o médico à distância. Então é é um avanço que a gente não pode abrir mão, né? não podemos esquecer do que aconteceu na pandemia e continuar defendendo a possibilidade de fazê-la. Na nossa própria rede, por exemplo, nós temos eh alguns núcleos de especialidade, como neurologia, 24 horas, para atendimento remoto a todos os nossos eh unidades de pronto atendimento para o atendimento rápido do AVC e a orientação, juntando imagem, dados clínicos no algoritmo, numa plataforma e a recomendação da trombólise ou de outra terapia. Eh, então é é algo que a gente não pode abrir mão, tem uma contribuição enorme no sistema de saúde suplementar, mas no SUS uma escala eh imensurável que isso pode atingir populações que jamais teriam acesso à especialidade que eu fiz, por exemplo, reumatologia. Em grandes centros, às vezes não encontramos reumatologista. Imagina eh em regiões afastadas do país em que um clínico, tendo seu reumatologista à distância vai resolver 100% dos casos, porque com tráfego de dados de imagem em laboratório mais um clínico na ponta, isso pode ser resolvido rapidamente. Você enxerga da mesma maneira, Gustavo. Você acha que aquela crítica que muita gente faz, os próprios médicos faziam, não? Isso o médico é insubstituível, a presença do médico conforta o paciente, não tem cabimento ele ficar diante de uma de uma de uma câmera para falar com o paciente e vice-versa. Essa é uma frase, ela ela é ótima. Eh, de fato, a presença do médico, a convivência pessoal, ela é super importante, mas há situações em que a telemedicina se impõe. Então, por exemplo, e entre o indivíduo que tá lá numa, sei lá, numa comunidade ribeirinha, que hoje tem acesso a à internet e conseguir uma consulta para um um com especialista à distância versus não conseguir nunca ou ter que viajar dias para isso, não conseguir ser acompanhado, acho que é bastante óbvio que é muito melhor que seja telemedicina. Outra situação que eu acho que é muito significativa, uma vez um psiquiatra me falando disso falou: "Olha, Gustavo, eu prefiro acompanhar meus pacientes meio a meio, metade de consultas pessoais e metade de telemedicina". Só isso. Por quê? Porque na telemedicina eu entro na casa dele, eu vejo o quarto dele atrás como tá, se tá desorganizado, se a cama tá feita, se a janela tá fechada, se tá aberta. Então ele consegue dar um passo que o médico antes dava e na casa de um paciente, vê o ambiente dele que para doença psiquiátrica fala enormemente e você no seu consultório você não consegue pegar isso. Então assim, acho que é um complemento, não é um substituto, mas tem aplicações enormes a meu ver. Acho que é veio para ficar, tem que ficar, tem que fazer parte. E dentro de um contexto de um país de dimensões continentais, acesso difícil a vários lugares e dentro do contexto de sul especialmente. Aí é mais ainda, nós temos, tivemos aí nos últimos anos uma explosão do número de escolas médicas e nós sabemos que nós não temos professores preparados para formar tanta gente ao mesmo tempo. professores de com carreira universitária, doutoramento, livre docência, gente preparada mesmo para criar departamentos nessas faculdades que se responsabilizem pela condução dos alunos. O que você acha que vai acontecer nos próximos anos essas faculdades despejando centenas, milhares de médicos pelo país aa? É só muito preocupante, né? Porque muitos cursos foram abertos sem o menor cuidado dos requisitos, né? Você mencionou seu professores, mas professores, infraestrutura, tecnologia, hospitais ou postos de saúde, onde esses esses médicos ou estudantes poderiam ou poderão fazer os seus estágios. E no final não há vagas de residência suficientes para absorver a demanda desses médicos que vão chegar, que já estão chegando no mercado de trabalho. tomado a isso, a provável revolução que a gente vai eh vivenciar do uso da inteligência artificial, né, incorporação de de AI nos algoritmos e nos tratamentos, há uma grande chance de ter médico sobrando, eh, médico desqualificado sobrando e que eles vão acabar atuando de alguma forma e porque o sistema se adapta, é um sistema complexo se adapta. Então, a gente vai eh observar um fenômeno de provavelmente subemprego, subatividades, atividades eh deformadas, onde o médico deveria tá atuando de uma forma diferente, fruto de uma irresponsabilidade até um cuidado inadequado nos critérios de abertura de cursos e do que acontece depois com esses cursos. Acho que é um assunto que a sociedade realmente precisa debater em relação ao freio, a certeza da qualificação ao final. ou durante o processo de graduação, a necessidade de especialização depois e o quanto que isso conversa com a onda de tecnologia e incorporação e o quanto que parte do trabalho do médico poderá sim ser facilitado, não substituído, facilitado pela inteligência artificial. Problema do que o Rogério acabou de dizer é que você tem esse pessoal que se esses alunos que se formam depois de 6 anos de faculdade, faculdade, a grande maioria vende escolas particulares com mensalidades muito caras, uma média aí de perto de 8 a R$ 10.000 por mês, portanto são acessíveis a classe média alta, pelo menos, não é? E eles se formam dessa maneira. Nós pegamos os melhores através dos concursos paraa residência e damos residências porque temos vagas nas residências para esses que são os melhores. Os menos preparados são jogados no mercado. Como é que você vê essa essa lógica de pegar os menos preparados por colocar para atender no SUS, para atender nas periferias da cidade? se é que eles vão para as periferias e um pouco mais longe. Hoje você vê médicos nos meios de comunicação e nas redes sociais apregoando tratamentos que a gente olha, fala: "De onde ele tirou isso? Que coisa absurda, não tem nenhum sentido. Essa a gente não vai encontrar nichos nessa assim chamada medicina alternativa, que eu sou contrário a esse termo. Acho que tem duas preocupações centrais. com a preocupação com o o número de médicos e a regulação do mercado. Essa é é um é um é existe uma complexidade nisso que eu de fato não consigo seguir os passos e chegar a formar um juízo. Agora eu tenho uma preocupação muito grande com a qualidade. Eu acho que essa é uma preocupação que a gente deve ter hoje, assim, o que que a gente tá fazendo como sociedade, exceto questionar e dizer que que é ruim, eu concordo que é ruim, mas que dobrou o número de faculdade de um intervalo de 10 anos. Então assim, não há gente preparado o suficiente para ensinar essas pessoas. O que que a gente tá fazendo para checar que essas que esses indivíduos merecem fazerem juiz a um diploma de médico? Como como médico, eu me preocupo com a medicina e com a atuação com as pessoas. Então a gente coloca em risco as pessoas, não, o mercado, acho que é um outro assunto, mas quando a gente coloca médicos desqualificados para fora. Então me preocupa eh enormemente isso. Com relação à à residência médica, acho que grande parte dos indivíduos que se formam em medicina hoje não querem fazer residência médica. não tem interesse passar por esse processo com processo duro, penoso, concurso difícil, um treinamento em serviço que normalmente é muito duro. É, eu acho que existem, digamos assim, outras demandas da área médica que são, a preferência de uma grande parte desse público que que se formam e que são não atrelados diretamente à doença, como é procedimentos estéticos, e aiding em saúde, práticas de não adoecimento e e coisas que são dentro desse dentro desse espectro questionáveis. Tem as as mais estruturadas e as menos estruturadas, o que é um perigo adicional. Por outro lado, existe uma demanda também das pessoas por esse tipo de de procedimento. Os médicos têm uma postura mais séria, um pouco mais conservadora, eles são demandados eh nessa nessa direção também. Então há aí um equilíbrio de demandantes, que são os não pacientes, mas clientes, também demandantes à à faculdade e que é uma prática de mercado, abrir vagas para o que tem para pagar. E do lado da gente, no nosso lado, lado medicina, eh, baseada em evidência com formação clássica, tentar proteger o mínimo do que é um diploma médico alinhado a uma formação que que funciona. O que se a gente vai fazer depois disso? a gente não tem como regular o número de faculdades para abrir. Acho que na na posição de médicos a gente não tem como regular, mas as entidades médicas, na minha opinião, elas têm como fiscalizar a formação, estruturar práticas e serem duras com isso mesmo. Precisam ser duras com isso, não com a abertura de faculdade, mas com com o produto que sai delas. Eu acho que é esse é o caminho que eu vejo. É, eu puxei essa conversa com eles porque o Brasil é o segundo país do mundo com mais faculdades de medicina. Nós perdemos paraa Índia, que tem 1 bilhão 400 milhões de habitantes e e temos mais faculdades do que os Estados Unidos, que tem 340 milhões, e mais do que a China, que tem quase 1.hão400 milhões. Tem alguma coisa de errado nessa história aí, né? Eu queria mudar um pouquinho de assunto agora e queria que você fizesse um apanhado, Rogério, porque a faixa etária da população que mais cresce hoje é aquela que tá acima dos 60 anos, né? É visível um homem, uma mulher de 50 anos, quando eu era criança, era considerada uma pessoa idosa, não é? Hoje morre alguém na família com 70 anos, a gente diz que morreu cedo, né? O que acontece do ponto de vista prático, assim, pega a tua experiência na rede de hospitais que você coordena, que acontece com esse envelhecimento da população, assim, do ponto de vista prático, o envelhecimento da população traz uma pressão para todos os gestores do sistema, seja o sistema público ou privado, né? Porque é crescente com a com o envelhecimento da população, a demanda por serviço, por atenção, ela cresce na mesma proporção. Somado ao envelhecimento, os nossos meios diagnósticos eles evoluem. Então, a gente tem gente vivendo mais e, portanto, adoece mais pelo tempo. E a gente tem métodos diagnósticos que detectam doença mais cedo. Então, isso por si só traz uma pressão de demanda e a gente precisa regular melhor os recursos até para não produzir doença em quem não precisaria necessariamente estar doente. Então aqui é eh de novo a necessidade de através de estudos científicos a gente vê custo afetividade, o quanto que nós médicos e sistema, temos que intervir ou muitas vezes só observar para evitar trazer dano, que é a nossa primeira missão, não causar dano, né? lembrando dela é o mínimo pelo menos não causar dano. Mas na na prática é claro que a gente vê um redesenho da geografia, das especialidades, os hospitais, da atuação do hospitais. Isso aqui é a oncologia que na nossa rede eh especialidade que t crescido uma velocidade acima das outras especialidades por esse fenômeno, né, pelo fenômeno do envelhecimento, pelo fenômeno da da qualidade diagnóstica. Então ela vai crescer mais e e com esse fato a gente vai redesenhando as nossas estruturas, a distribuição de leitos, a quantidade de serviços ambulatoriais para atender a essa população que é diferente do que nós fazíamos há alguns anos. É uma população que eu observo bastante isso, por exemplo, quando quando olho o meu pai, meu pai tem 78 anos, até recentemente não era tão, não tava tanto na internet, no celular. Hoje ele faz absolutamente tudo no celular. Então a gente também precisa, porque muitas vezes erradamente pensávamos: "Não, mas o idoso não vai usar canal digital, usa também canal digital, ele que se comunica também da mesma forma. E a gente tá preparado para esse fenômeno. A gente continua com paradigma de que não, isso é pros jovens. O fenômeno do envelhecimento muda completamente a forma com que a gente precisa planejar o nosso futuro em relação a prestar o nosso melhor cuidado, né? a gente afirma que tem paixão por cuidar e a gente precisa cuidar com paixão de idades diferentes, públicos diferentes. E essa, sem dúvida nenhuma, é uma população que a gente tem que tá bastante atento. Aproveitando, na oncologia, nós tivemos uma evolução absurda nos últimos anos. Absurda não, mas uma grande evolução nos últimos anos. Agora, a incorporação da tecnologia nova, uma vez que a medicina nesse campo é do ponto de vista econômico, é diferente dos outros ramos da economia. Você incorpora a tecnologia, você barateia o preço. Na medicina você aumenta o preço, na oncologia especialmente. Nós temos drogas hoje que aumentaram os índices de cura e que deve nós temos que garantir o acesso a elas. como é que lidar com esses preços astronômicos nessas, né, nessa hora? Esse é um desafio enorme da oncologia e eu consigo conviver com ele somente olhando sobre uma perspectiva histórica e de períodos de tempo mais longos. Ah, então quando você olha oncologia de 50 anos atrás tinha cinco remédios de 40 remédios e agora a gente incorpora 10, 20, 30 medicamentos por ano. O preço dos medicamentos que foram incorporados 30 anos atrás, o senhor vai lembrar nessa época que o senhor praticava, 20 anos atrás, senhor praticava muito, era absurdo para aquele momento. Hoje as cópias, os biossimilares fizeram com que isso seja depreciado e altamente utilizável. Assim, o preço da normalmente da incorporação, ele vai ser pago em 5 a 10 anos de uso, o que é altamente sofrido pra gente que tá vendo o paciente no dia a dia e que quer usar aquilo hoje. Por outro lado, sobre a perspectiva histórica, o amanhã que tá ali em 5, 10 anos pra humanidade é muito pouco, para uma família é é uma enormidade, mas paraa humanidade é muito pouco. Os 5, 10 anos paraa frente aquele medicamento provavelmente vai est acessível por 20% do preço do que o que ele custava hoje. Então assim, a maneira que faz a gente dormir olhando para isso é é é a única é essa. Eh, por outro lado, agora com medicamentos desenvolvidos, não só em oncologia, mas em outras áreas para doenças muito raras, né, que tem um público muito pequeno de pacientes, aí os preços de fato se tornam eh impossíveis mesmo para uma pequena proporção de usuários. terapias com Rhõ, R$ 3 milhões deais, por exemplo, para para um paciente, é algo que transformaria a vida de mais de 90% das populações da da das pessoas do Brasil, né? Teriam uma vida economicamente transformada ponto de vista de educação, de qualidade de vida, etc. Então, mesmo olhando por uma ótica feliz e e de longo tempo, eu consigo entender que existe hoje algum grau de um grau significativo de distorção que a gente precisa começar a atacar e a impor mecanismos de de controle eh num numa numa no de gestão maiores, seja para público, seja para privado. Essas discussões têm que estar em cima da mesa da gente, né? Mas você acha que tem solução esse tipo de problema? Tem uma criança que nasce com determinado problema genético e aí tem uma droga específica para aquela criança. A vida dela depende dessa droga, mas custa R$ 2, 3 milhões deais o tratamento. Tem alguma solução possível? É muito difícil essa solução. Acho que é é como como pai da criança, não tem outra coisa a fazer que não seja lutar pro seu filho viver. Isso contra qualquer coisa e contra qualquer situação socioeconômica. como sociedade. Eu acho que aí é é discutir a e aí a gente não consegue decidir o preço da vida de uma pessoa, mas como sociedade a gente pode discutir quanto vale incrementar a vida de uma população e e quantos dinheiros a gente tem a gente tem para isso. Acho que é essa discussão ela não pode ser personalizada sempre que ela for. se fosse na minha casa e tomara que isso nunca aconteça, qualquer recurso que eu tivesse estaria à disposição, desde do recurso financeiro até o recurso de buscar o judiciário, etc. Mas sobre a ótica de sociedade, acho que a gente tem que ter um olhar maior e as pessoas estão nas posições precisam ser validadas para isso. Ah, nós médicos fomos treinados a tratar um paciente por vez e ofertando o melhor possível para aquele paciente. Esse é o nosso modelo de a palavra possível aí tá tá muito bem empregada. Eh, quando nós nos colocamos no lugar de do financiador do sistema, né? Imagina o Ministério da Saúde, decisões são difíceis de serem tomadas, porque muitas vezes os recursos para um tratamento poderiam fazer milhares de outros tratamentos que também estão de fora. Veja, a gente metade dos hipertensos sequer sabem que são hipertensos. É, e dos que sabem não conseguem ser tratados adequadamente por vários motivos. a discussão do financiamento, daquilo que deve ser incorporado ou não, em que situação, ela precisa levar em consideração essa esse todo, porque muitas vezes um sim que eu dou aqui são vários nãos eh que não são percebidos, são não discretos e que chamam menos atenção e muitas vezes matam popul dizimam populações, né, como as doenças crônicas que são muito mal cuidadas de uma forma geral no nosso país. É um dilema que a sociedade vai precisar debater, né? Talvez, talvez tenha pouca visibilidade a sociedade sobre esse tipo de assunto. É um último comentário sobre isso que é eh a justiça inglesa tem um caso em que eles foram a Suprema Corte por isso e eles devolvem da seguinte forma, dizendo que não cabe à justiça direcionar recursos em saúde, que essa é uma prerrogativa do executivo. Então que existe uma uma limitação dos recursos que o executivo tem que escolher aonde que ele vai alocar em cada em cada caixa. Ou seja, a justiça nesse caso lá validou a a função do executivo. Isso pode pode até o que deve acontecer num ambiente de alta segurança, num ambiente em que as pessoas confiam cada um no seu quadrado. Essa é o é uma é é seria o desejável. Problema do nosso país é que a gente vive um ambiente de extrema desconfiança, se desconfia de tudo. Então é muito difícil praticar a medicina ou qualquer atividade executiva num ambiente de alta desconfiança, falando no no setor público especificamente, mas também nos outros setores. Olha, nós temos uma situação hoje 80% dos atendimentos do SUS eh de doenças crônicas. Metade dos brasileiros, pelo menos, chegam aos 60 anos, mulheres e homens com pressão alta, né, com hipertensão arterial. O número de casos de diabetes aqui varia entre 16 e 20 milhões. São números astronômicos, não é? Doenças que são potencialmente graves, que dão complicações mortais muitas vezes, não é? Com ataque cardíaco, derrame cerebral, etc. Se a gente partir do princípio, Rogério, que 30% do das doenças crônicas são devidas a fatores socioeconômicos. É a casa em que a pessoa vive, o tempo de o número de horas que passa na condução, eh o salário baixo que implica numa dieta e que não dê os ingredi os os macronutrientes e os micronutrientes essenciais. 30%, 50% dependem do estilo de vida. Então, a medicina, nós podemos agir naqueles 20% só. A gente sabe o que é você esperar essas pessoas ficarem doentes para ir atuar. É o caso dos americanos. Gasto estrondoso em saúdes gastam pelo menos 3 trilhões e meio de dólares em assistência médica e tem uma uma expectativa de vida ridícula para comparada com esse ganho gasto total. expectativa de vida, ela mal chega aos 78 anos. É igual a de Cuba, que é um país muito pobre. Muito bem. Então, esperar essas pessoas ficarem doentes não faz sentido, porque depois você não tem dinheiro para tratar delas todas, né? E por outro lado, você vê que não existe, mesmo nos ambientes de saúde coletiva e no próprio Sistema Único de Saúde, o SUS tá um pouco melhor nessa área, mas nada voltado para a prevenção. Como é que você vê esse problema? Eh, da mesma forma, acho que a gente ainda engatinha em relação aos incentivos e a visão da medicina preventiva. Eu vou tomar a liberdade de usar o meu exemplo. Eu sou diabético, tipo um. Então, diabético lada. Então, desde os 30 anos eu sou diabético. E aí, com o meu nível econômico, eh, intelectual, é uma doença muito difícil, né? Eu hoje eu tenho hemoglobina glicada normal, mas a quantidade de atividades, cuidado, alimentação, exercício, medicamento, sensor de glicose, não é paraa maior parte da população, né? E como é que a gente eh consegue resolver esse problema, né? Por isso que as equipes de atenção básica à saúde, elas podem causar uma já causam naqueles municípios e onde isso tá bem instituído, elas podem causar uma revolução no na condição tratamento de doenças crônicas como o diabetes e a hipertensão e com recursos que não são tão elevados assim, mas vai requerer obviamente usar de tecnologia, a questão do monitoramento remoto, a capilaridade, não só postos de saúde, mas farmácias hoje tem no país e a gente deixa de de usar esse recurso por ainda ter aquele conceito de que tem que ser somente proporcionada pelo médico. Então, quantas pessoas estão de fora ou sendo subtratadas e até não diagnosticadas por um tipo de pensamento que é acadêmico, um pensamento num ambiente controlado. Sim, no ambiente controlado, o ideal é que seja desse jeito, mas a gente precisa fazer aquilo que tá ao nosso alcance, ao nosso alcance fazer. Então a gente, eu entendo que a gente precisa fazer uma revolução mesmo em relação a alguns paradigmas, quebrar alguns paradigmas para poder atuar. São duas condições clínicas que são prevalentes e que estão correlacionadas à alta mortalidade quando não tratadas. Então é ter as escolhas, não dá para fazer tudo ao mesmo tempo, né? Ter escolhas para poder ser mais assertivo no resultado. Ô Gustavo, você acha que a inteligência artificial pode ajudar nesse sentido? Porque talvez você introduz uma tecnologia nova, a gente se assusta com ela, né? Eu lembro do tempo que quando surgiu o prontuário eletrônico, grande parte dos nossos colegas, que absurdo, eu vou ter tudo aí, eu escrevo tudo que precisa ser escrito e tal, hoje tá aceito universalmente. Você acha que a inteligência artificial, de que modo ela vai poder contribuir? Ela vai ajudar ou ela vai atrapalhar? Bom, acho que a inteligência artificial, existe aí uma enorme preocupação no mundo hoje, né, com a inteligência artificial, que que vai virar. Muita gente preocupada. Na medicina em si, eu me preocupo muito mais com a burrice natural do que com a inteligência artificial. Eh, é que a a o uso da inteligência artificial e das formas de consulta rápida, etc., elas vão emborrecendo as pessoas e e os profissionais vão perdendo o senso crítico. Ela é uma grande ferramenta para quem não tem conhecimento nenhum e precisa de respostas rápidas, precisa buscar material para discutir com o médico, quer fazer perguntas, é, ela ajuda demais a estruturar. A partir do momento que o médico eh ou que o profissional não consiga fazer as perguntas apropriadas, desafiar a inteligência artificial, a gente a gente tá enrolado. Então, por isso que eu falo que a minha preocupação é muito maior com a com a burrice natural. Dito isso, eh, com relação ao que Rogério tava falando, quer dizer, de prevenção, especificamente. Prevenção é um assunto, na minha opinião, muito relacionado à educação e a hábitos. Então, o paciente chega, vou fazer meus exames preventivos. Isso quais seriam? É, é onde onde que tátivos do qu de qu? Então assim, por exemplo, em oncologia especificamente, acho que tem dois câncer que a gente consegue em algum grau prevenir com com exames. É câncer coloal, quando uma colonoscopia tira um pólico e evita que vire um câncer efetivamente e câncer de colocola e tira uma lesão pré-marign. No restante são exames para diagnóstico precoce, mas não previnem eh coisa nenhuma. Então, a a nesse sentido, a inteligência artificial pode ajudar as pessoas sem uma consulta médica, pode ajudar a a compreender que tipo de de informação seria importante, que tipo de hábito a ser incorporado poderia ser feito a para reduzir a ocorrência de de alguns tipos de doença. E para mim, a educação é é a parte central do do da prevenção, especificamente. Uma das críticas que você mais ouve dos pacientes hoje é que, ah, eu fui ao médico, ele não olhou na minha cara, ele ficou virado pro computador escrevendo. Você acha que esse tipo de crítica é muito comum, né? É o, infelizmente é muito comum. Você acha que é a tecnologia pode ser ter tem ter um mau uso pelo médico no sentido de que ele não examina mais ninguém? O que também é outra realidade atual? Ninguém. Eu sempre quando dou aula, insisto e escrevo em muitos lugares. Medicina, uma profissão que faz com a mão. Você tem que tocar a pessoa sem você ter, sem você fazer um exame físico, o ato médico não se concretiza, ele fica capenga. Você acha que toda essa tecnologia e a inteligência artificial e tudo que tá disponível para nós hoje para informação qualificada afasta o médico do doente? Isso é interessante. Primeiro eu vou fazer um disclose aqui que a gente já recebe também eh eh o paciente mudou, então a gente já recebe questão do contrário também. Se torceu Ca demais. Eh, a gente tá tá tá essa consulta tá tá muito demorada. Eu tenho, eu tenho um colega que fala: "Não, paciente tem tempo para ficar meia hora com você aqui não. Precisa ir embora, resolver a vida dele. Tem as Então assim, essa visão do paciente, o paciente também se transformou em algum grau." E dito isso o seguinte, né? o médico, a a profissão médica, ela começa de duas na minha opinião, de duas coisas, dois valores principais, duas coisas principais. Uma é empatia, jeito mudar você é médico, se ele não não não se coloca na pulsão do outro e não enxerga o sofrimento do outro. E a outra tem que ter um pouco de curiosidade. Então, essas são as duas coisas originais. Isso com o tempo gerou uma medicina que era de prognóstico e de cuidados paliativos originalmente. Depois a gente desenvolveu terapias transformadoras de doença. Uhum. E a técnica veio. E aí o médico se apaixonou, se beevceu pela técnica e esqueceu do paciente. Assim, não não todos e não de uma maneira geral. Mas isso acontece um distanciamento, era dono da técnica, ele dono do conhecimento e o paciente à distância. A medida que vem inteligência artificial e que vem o acesso a a à informação mais rápido, a informação do paciente sobe muito e você não tem partir dali um determinado ponto informação passa a ser equilibrada. Então o que que te sobra? o exercício de de empatia, de se colocar no lugar do jeito, de pegar aquela parte técnica, de ter visto vários casos e e explicar pro cara como pro paciente, como que aquilo se aplica na vida dele. Então, a gente volta um pouco eh no tempo em quando a tecnologia foi tão longe que ela começa a equalizar o conhecimento e sobra pra gente explicar pra pessoa o que que aquele conhecimento significa na vida dela. Então, acho que é esse é o é o é o é o modelo do que a gente vai precisar ser como médico pra frente. Não vai dar para explicar pro paciente uma novidade, ele ele já vai saber. Vai dar para explicar como que aquele tratamento transforma a vida dele com a pessoa que ele é, com os hábitos que ele tem, com a vida que ele tem. Eu acho que é esse é o como é que você enxerga? A tecnologia ela já ajuda muito, né? Então a gente, sem dúvida nenhuma, como qualquer tipo de ferramenta, a gente pode usar pro bem ou pro mal, né? Então pode ficar olhando só pro computador e com isso não olhar o paciente nos olhos, não ouvir com atenção e não tocar nele. Mas também essa mesma tecnologia que hoje a gente tá já banalizou fez com que o paciente não precisasse mais ir buscar o exame, demorasse 10 dias para conseguir entregar pro médico, já chega imediatamente pro médico e você consegue intervir a gente pegava vários laudes para acompanhar a hemoglobina de evolutiva. Agora já vem um gráfico pronto comparando os últimos exames quando ele faz no mesmo laboratório. E acho que essa mesma inteligência artificial que abastece o paciente de quais são as perguntas que ele tem que fazer pro pro médico, ela sem dúvida vai nos ajudar a olhar pro paciente enquanto o próprio computador já ouve a anamnese e estrutura os dados sem que o médico precise digitar. E essa quantidade de dados que a gente hoje soma para tomar uma decisão médica, eles podem ser feitos essa coleta de forma mais estruturada. alimentando algoritmos que o próprio médico decidiu qual seria, se seria a sociedade, seria um paper, etc., incorporando também nele não só os dados da anamnese, os dados de laboratório, os dados de imagem, mas dados de genética, dados comportamentais, porque quando a gente soma tudo isso, a gente consegue prever melhor a chance de complicações ou até de aparecimento de doenças. E isso se a gente não faz de uma forma estruturada, a chance de erro é muito grande. Então eu vejo nesse futuro a a reunião de dados estruturados e de forma muito mais eh estatística e programada e muito menos intuitiva eh filosófica. a gente poder detectar nesse sentido, qual seria o paciente que deveria fazer mais cedo uma colonoscopia ou outra intervenção baseado não mais só em dados populacionais, mas em dados daquele paciente, porque a gente vai reunir mais dados personalizados, estilo de vida, dados genéticos, eh dados em relação ao que a gente já tem ali para poder fazer uma medicina um pouco mais eh precisa. Nós estamos chegando no final dessa conversa aqui, Gustavo. Vamos fazer um pouquinho de futurologia. Todo esse conhecimento, toda a tecnologia que nós estamos vendo aparecer numa velocidade que mal a gente consegue acompanhar, que impacto vão ter na ação do médico dos próximos anos? Como vai ser esse médico do futuro do futuro imediato? Eu vejo um mundo melhor. Eh, eu vejo os médicos diferentes e vejo os pacientes diferentes. Isso é é acho que o primeiro impacto, né? Na verdade, o médico ele ele ele não age de maneira isolada, ele é um produto do meio dele e o meio dele, basicamente é o o o cliente dele, é o paciente que também que o influencia muito. A tecnologia certamente vai transformar as coisas numa velocidade muito grande. Eu acho que o limitador nosso não vai ser a tecnologia. vai ser a nossa capacidade de de adequar e transformar o nosso comportamento com relação à a à tecnologia. Esse de fato é o grande desafio ah que eu que eu vejo no futuro, quanto a gente vai conseguir trazer a para pro mundo real, pra relação médico paciente, as respostas de altíssima velocidade, de altíssima qualidade, como tava falando, que a inteligência artificial vai trazer pra gente, vai conseguir ler 1 milhão de prontuários num dia e achar um caso parecido com o doente que tá que que tá na sua frente. Isso isso certamente vai vai ser revolucionado de uma maneira muito mais rápido. A gente vai ter muito menos erro, muito mais qualidade na medicina. Isso vai se vai impactar tanto na qualidade de vida das pessoas quanto na extensão de vida das pessoas, quanto num trabalho médico melhor, mais qualificado, mais gratificante. Isso é o que eu acho. Acho que é o caminho é por aí. Acho que a gente tem muito médico no mercado. Por outro lado, existe uma utilização do sistema de saúde muito maior. As pessoas confiam muito mais. O sistema de saúde tem muito mais a oferecer. a frequência ao médico tende a aumentar, porque existe existem existe esperança na medicina para as pessoas. Então eu vejo com um otimismo. Eu acho que a gente vai viver mais ou viver melhor e a medicina vai ser um lugar bonito no futuro. Não, sem problemas. Você tá de acordo com o Gustavo? Totalmente de acordo. Eu costumo falar com os nossos times que essa medicina do futuro ela sim é high tech, mas ela precisa ser high touch. A gente precisa tocar, a gente precisa sentir. Seja dois colegas médicos conversando, o médico com o paciente, ele sentir no toque a confiança, sentir que tem alguém junto com ele naquela luta ou no familiar. E é muito em cima disso que a gente tá criando essa rede nova, né? essa rede de Américas em que sim, a gente quer trazer dados, trazer tecnologia, trazer inovação, mas sem perder o toque. Por isso o lema do paixão por cuidar, pra gente poder estar ali presente de verdade no momento que em hospital em oncologia são momentos em geral muito difíceis, dolorosos, de fragilidade, de insegurança, de incerteza. E o profissional de saúde precisa ter isso como propósito para que tudo dê certo. Mas eu sou um otimista en veterado, vejo da mesma forma como que a gente vai conseguir sim ter um futuro muito melhor juntando tecnologia com o coração. E você acha que os jovens que estão chegando agora, que impressão você tem deles? Você acha que eles vão ser bons médicos ou na média vão ser melhores médicos do que os que se formaram eh na sua geração de recém-formados? Eu acho que nós vamos ter que contribuir com essa formação, né? Não não vai dar para esperar que eles cheguem prontos pelos motivos que a gente conversou um pouquinho mais cedo aqui. Então as organizações de saúde, nós temos um grande sistema de saúde tá conosco aqui, uma grande rede de hospital oncologia. Eh, nós não podemos fechar os olhos para essa nossa missão, que também é nossa, de contribuir com a com a formação continuada dos médicos e os demais profissionais, porque a tendência é que não, a tendência é que na maioria a formação seja pior, pelo menos o produto final seja pior do que em gerações anteriores. Você concorda com o Rogério Gustavo? É, não, não. Eu eu acho que acho que a gente vai vai ficando velho na profissão e a gente tende a ser um pouquinho reacionário, a olhar para trás e dizer na minha época que era bom. Eh, eu sempre olho e acho que uma geração vai vir diferente da outra, mas que vai conseguir superar, vai conseguir atingir os parâmetros humanos, técnicos, de um jeito diferente, mas vai conseguir. A gente fica preocupado porque a gente não, a gente não lembra exatamente como era na nossa época, mas eh a gente sofria as mesmas críticas dos do dos dos mais velhos que a gente. Acho que a turma é diferente. De fato, eles são eles têm outros outros valores, outros outra outra maneira de ser nessa fase da vida. Mas acredito que eles vão chegar num lugar num lugar muito bom. É assim que a a vida anda, eh, o mundo vai paraa frente. A gente não tem andado para trás, embora a gente apronte uma série de problemas todos os dias quando a gente olha o o para trás e o hoje, coisa certa é que o hoje é muito melhor do que o que era antes. E eu acredito que amanhã vai ser igual, vai ser melhor que hoje. Na oncologia especialmente, eu quando me fornei, fui um dos primeiros oncologistas de São Paulo, primeiros mesmo, acho que tinha dois ou três naquela época. E eu vejo as novas gerações foram melhorando muito. Hoje você pega uma meninada aí que sabe tudo de oncologia, impressionante o conhecimento. Mas acho que também você tem razão num ponto, né? Eles precisam de formação. E essa a formação em em no caso da medicina não existe um momento que você diz: "Eu tô formado, né? Nenhum de vocês está informado. Tá formado. Nem eu tô tô formado. Gostaria de ainda me informar muito melhor. Muito bom. Queria agradecer você, Rogério, você, Gustavo, por essa conversa tão interessante. Aqui nós temos mais de 200 episódios do Drauscast. Se você se interessa por temas médicos, acesse o nosso portal. Lá também você vai encontrar o Saúde sem tabu e o outras histórias. Muito obrigado pela atenção.
Fique informado(a) de tudo que acontece, em MeioClick®